[RESENHA] Fera – Brie Spangler / Editora Seguinte

por Biia Rozante
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FERA – Brie Spangler

Sinopse: Dylan e Jamie sempre foram julgados pela aparência, e não pelo que são — até encontrarem um ao outro. Dylan não é como a maior parte dos garotos de quinze anos. Ele é corpulento, tem quase dois metros de altura e tantos pelos no corpo que acabou ganhando o apelido de Fera na escola. Quando ele conhece Jamie, em uma sessão de terapia em grupo para adolescentes, se apaixona quase instantaneamente. Ela é linda, engraçada, inteligente e, ao contrário de todas as pessoas de sua idade, parece não se importar nem um pouco com a aparência dele. O que Dylan não sabe de início, porém, é que Jamie também não é como a maioria das garotas de quinze anos: ela é transgênera, ou seja, se identifica com o gênero feminino, mas foi designada com o sexo masculino ao nascer. Agora Dylan vai ter que decidir entre esconder seus sentimentos por medo do que os outros podem pensar, ou enfrentar seus preconceitos e seguir seu coração. 

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Antes de iniciar a resenha quero já deixar minhas desculpas caso por ignorância sobre os termos corretos e qualquer fala que possa vir a ofender alguém.

Quando li a premissa do livro FERA por alguns momentos pensei em não solicitar o livro, não que a premissa não seja instigante, mas por puro preconceito. Não tenho medo de admitir o quanto minha visão sobre um dos temas da história era deturpado e que em função disso acabei por julgar a obra antes mesmo de conhecê-la. Porém, uma inquietação tomou conta do meu coração, LER para mim é muito mais que apenas escolher um livro aleatório e pronto, é busca de conhecimento, desafios, entretenimento, distração, cura, reflexão e inspiração, e foi pensando nisto que decidi que deveria solicitar sim a obra junto a Editora Seguinte. Uma escolha sábia, que por diversos momentos tocou meu coração, me deixou sem palavras, sem uma opinião formada, pensativa e livre de qualquer amarra “Cultural, social e religiosa”.

É realmente difícil deixar para trás aquilo em que acreditamos, que nos foi passado desde sempre sobre o que é “certo ou errado”, principalmente quando o assunto é gênero e orientação sexual.  Sempre prezei pelo respeito e direito de escolha de cada um, em minha opinião todas as pessoas são livres para escolher aquilo que desejam, independente de eu concordar ou não. Não sou ninguém neste mundo para julgar alguém e sempre fui totalmente contra violência e opressão. Mas sendo totalmente honesta, sou evangélica, tenho minhas crenças e estar aqui abrindo meu coração após essa leitura, me deixa amedrontada e confusa.

Dylan não é um adolescente “normal”, aos quinze anos ele tem quase dois metros de altura, uma quantidade absurda de pelos pelo corpo e é chamado de FERA por seus colegas. Apelido este que o incomoda, pois faz com que se lembre constantemente de sua aparência e da maneira como é minimizado por isso, não que ele precise de lembretes, acostumado a ser diferente faz de tudo para se manter invisível, se esconder, ainda que isso seja impossível. O que torna essa jornada estudantil mais fácil é seu melhor amigo JP, com tem uma relação complicada, dois jovens com estilos de vida totalmente diferente, unidos por linhas tênues entre o verdadeiro carinho e puro interesse. Tendo um pai falecido, sua única família é sua mãe com quem nutre uma relação linda de amizade, mas sabem como é? Mãe é sempre mãe e quer o melhor para seu filho, saber onde ele está, com quem está, quer tomar a sua dor para si, que enxergue a si mesmo com seus olhos e proteger, proteção essa que irá ficar sufocante a partir de um pequeno incidente.

Terapia é algo que Dylan não quer fazer, não acredita em seus resultados e que pretende fazer apenas uma sessão para agradar sua mãe. E é lá que ele conhece Jamie, uma jovem linda, que tem o carinho de todos no grupo de terapia, mas que enfrentam uma barra imensa longe dali. Jamie é trans e lida cada dia da sua vida com as dificuldades de sua “escolha”, uma luta desgastante, cheio de altos e baixos, que atormenta seu coração.

“— Bem, talvez você não tenha o direito de fingir que não existe. Já parou para pensar nisso? Pois fique você sabendo que você existe sim. E há pessoas que te amam…”


Dylan é um jovem especial, a principio fiquei na dúvida se realmente o achava o mocinho da história, uma vez que muitas de suas ações e comportamento o transformavam em “vilão”.  A verdade é que ele Canaliza sua raiva, revolta, humilhação, o desprezo na violência. Um jovem pé no chão, que sofre com a ausência de seu pai, que compreende as dificuldades financeiras que passa em casa e os sacrifícios que sua mãe faz, por essa razão se dedica muito aos estudos, é um aluno nota dez, que nutre o desejo de passar para uma boa universidade por sua inteligência e mudar a vida que leva. Já Jamie tem uma jornada longa, mesmo com sua maturidade, a maneira como encara a vida e está disposta a lutar é inegável o quanto se machuca no percurso. Ela é forte, determinada, mas também é vulnerável e como qualquer ser humano tem sua fragilidade. Jamie foi à personagem que temi não compreender e até não aceitar, mas que me surpreendeu e me ensinou muito a cada página.

“(…) Não é o meu tamanho que me assusta. É o que carrego dentro de mim. Meu Hulk secreto está sempre logo abaixo da superfície, me provocando. Mas conheço os truques para mantê-lo adormecido.”


Imagina dois jovens de quinze anos enfrentando um mundo intolerante, que valoriza a aparência, que menospreza aquele que julga inferior, que aponto aquele que ousou seguir seu coração, que julga sem limites… Dois jovens que paralelamente lutam suas batalhas e que quando se encontram passam a lutar contra si mesmos. E é essa jornada pela busca de amor próprio, de aceitação, perdão e recomeços que acompanhamos.

“— Sinto como se estivesse presa nesse mundo onde não sei mais o que é verdade. Quando estou com você, só quero as coisas boas e fico cega demais para ver as ruins…”


FERA fala acima de tudo sobre aceitar as pessoas pelo que elas são, por seu interior, pelo coração e caráter. É sobre se despir de convicções extremistas, sobre desconstruir os estereótipos em nossa mente, RESPEITAR aquilo que não compreendemos e de certo modo não concordamos. Sobre se aceitar, se respeitar, amar a si mesmo, encarar o mundo de cabeça erguida. É sobre o direito de viver, amar e ser feliz. Ele cutuca a ferida, te faz questionar até onde você realmente é livre de preconceitos.

O que posso dizer é que sou apenas um ser humano falho, que nada sei sobre nada, que quanto mais penso ter compreendido algo, na verdade estou anos luz de distância, que tenho muito a aprender, a crescer, a amadurecer. Mas a certeza em meu coração hoje: É que nada deve impedir tua felicidade, ninguém tem o direito de interferir na sua vida e muito menos de julgar, odiar e apontar.

Acredito que o MUNDO será um lugar melhor, quando o ser for maior que a cor da pele, da orientação sexual, do gênero, da nacionalidade, de política, religião… Quando as pessoas simplesmente pararem de se importar com tudo e todos, e passarem a viver as próprias vidas, respeitando e amando uns aos outros.

Ainda me choca o quanto somos carentes, necessitados da aprovação do outro, o quanto desejamos ser aceitos, respeitados, compreendidos. E ainda assim, cometemos os mesmos erros dia após dia. No fundo todos temos nossos próprios demônios para enfrentar, nossas próprias batalhas para vencer, nossos próprios caminhos a construir e seguir.

Mas quer saber minha opinião real? Tudo se resume ao AMOR, amar o próximo independente de suas escolhas, ter EMPATIA, se colocar no lugar do outro, pensar em como seria se fosse com si mesmo ou algum familiar, amigo, ter RESPEITO, ainda que não concorde, que não compreenda, que não aceite, ter HUMANIDADE, somos todos iguais. Por baixo da pele, da aparência nos resumimos a um conjunto de células, órgãos, ossos, sangue, espírito. Assim como você quer ter o direito de ser feliz e viver a SUA vida da maneira que bem desejar, todos querem também.

FERA não é uma obra perfeita, ela tem sim suas pequenas falhas, detalhes que poderiam ter sido melhores explorados como por exemplo o que de fato é uma pessoa transgênero, como ocorre essa descoberta, como tudo isso fica dentro da cabeça de quem passa e daqueles que estão em sua volta?! Mas esses apontamentos em nada diminuem o valor da leitura, que é divertida, densa, tabu e emocionante. Espero que todos possam ler e que tenham o prazer de viver o misto de emoções e conflitos que a trama proporciona.

Peço desculpas pelo texto imenso, mas precisava compartilhar com vocês minhas reflexões.
Até a próxima! Bye.

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Lili Aragão 26 de maio de 2017 - 12:02

Oi Bia, você criou uma resenha bem tocante e deu pra perceber através dela que a história te fez refletir bastante e te levou a uma nova perspectiva sobre o assunto. Eu gostei da resenha, mas ainda não sei se iria gostar do livro, essa faceta violenta de Dylan mesmo que ele tenha "bagagem" pra isso me deixa com o pé atrás e Jamie, não sei, talvez esse personagem me traga mais informação sobre s transgêneros, confesso que sei bem pouco, ainda assim acho que no momento eu não iria aproveitar tanto assim a leitura (acho que as vezes o momento diz muito sobre o livro que se deve ler), mas a frente talvez.
P.S: Tenho que destacar que a conclusão da resenha tá ótima e os destaques das palavras em caixa alta (amor, empatia, respeito…) perfeito 😉

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Biia Rozante | Atitude Literária 26 de maio de 2017 - 13:01

Oooiiii Lili.
Obrigadaaaaaaaaa, foi realmente uma leitura marcante. Mas concordo com você é preciso estar no momento certo, pronto para o que vai encontrar. A faceta mais bruta de Dylan não é algo que tome muito da história, acredito que pela pouca idade do personagem e a reação em si me deixou incomodada com isso. Jamie é o tipo de personagem que nem sempre será compreendido e bem recebido, é conflitante.
Mas se tiver a oportunidade leia sim.
Beijoooooooooooooos.

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alinecrist 10 de agosto de 2017 - 17:07

Achei o livro bem interessante também. Faz a gente refletir sobre a maneira que enxergamos o mundo. E acho que essa questão de explorar mais o lado da descoberta transgênero teria que ser abordada num livro sob a visão da Jamie. Como o livro é narrado pelo Dylan fica difícil transmitir exatamente como essa descoberta/entendimento ocorre. Talvez a autora escreva uma continuação na visão da Jamie ou até mesmo esse mesmo livro sob a visão dela. Seria interessante.

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