[RESENHA] A Morte e os Seis Mosqueteiros | Anatole Jelihovschi | Editora Jaguatirica

por Biia Rozante
0 comentário

A MORTE E OS SEIS MOSQUETEIROS – Anatole Jelihovschi

Sinopse: Em seu novo romance policial, Anatole Jelihovschi mergulha fundo no cotidiano das infâncias perdidas, dos relacionamentos partidos, das oportunidades que tantos ainda acreditam distantes demais da realidade. A morte e os seis mosqueteiros é a história de seis garotos muito amigos de uma favela. Quando crianças, tudo era uma grande brincadeira. Os meninos gostavam de se imaginar nos mundos de capa e espada, ou na peça ‘O fantasma da ópera’, mas na verdade moravam em uma favela violenta, com bandidos e policiais trocando tiros e matando gente. Ainda quando a infância sequer os havia deixado, a violência e o tráfico na comunidade em que viviam, de uma forma ou de outra, acabariam por envolvê- los em uma teia de morte, assassinando seus sentimentos, valores e, principalmente, sua amizade.

Existe uma realidade da qual sempre ouço falar. Realidade essa presente nos noticiários, nas mídias e que ainda que me compadeça da dor, que fique triste e angustiada por ver, nem sempre a encaro como algo de fato “real”, presente, constante, não por deixar de acreditar e sim por ser difícil encarar tal crueldade como algo normal. Uma realidade amarga que assola milhares de brasileiros, ou melhor, milhares de pessoas todos os dias, seja acordando, indo trabalhar, dormindo, com si mesmo, com um familiar ou amigo. Uma realidade que não perdoa, que não tem misericórdia e que infelizmente está muito longe de mudar.

A MORTE E OS SEIS MOSQUETEIROS é um triste relato dessa realidade. Contada através dos olhos do jovem Zequinha, que enfrenta as mais diversas situações e reviravoltas junto com seus amigos, que ainda que nutra sonhos, boa vontade e tente buscar um futuro melhor, precisa lidar com as provocações, tentações e injustiças de quem cresce com poucas oportunidades e nenhuma esperança.

Zequinha, Juca Pelo de Burro, João Mocotó, Zé Grande, Batata e Meia-noite são chamados de os seis mosqueteiros, apelido este dado por uma amiga em comum – Julinha -, que não vive na favela. Juntos eles compartilham as alegrias da infância, as descobertas da idade e sonham com um futuro como o encontrado nas páginas de um livro. Porém, não demora para que tudo isso desmorone. Os anos passam, cada jovem acaba por seguir um caminho, escolhas erradas, escolhas impensadas, escolhas impostas, falta de escolha, como mencionei no início desta, uma realidade cruel. E deste modo vamos acompanhado o dia a dia e lutas destes jovens.

Como é difícil ser confrontado pela verdade. A cada página nos deparamos com um novo obstáculo, com uma nova perda, um novo motivo para desejar fechar os olhos e tentar fingir que isso não existe, ou com um sentimento renovado de que tudo isso precisa receber um basta. Zequinha é o narrador, é através de seus olhos que somos apresentados a esta história. E foi realmente doloroso ver os sonhos de um menino, de um jovem com tanto a viver ir sofrendo rachaduras a cada passo, sem saber qual caminho seguir, se irá sucumbir, ou se tentará seguir firme por outro caminho.

“Ninguém tem futuro pela frente mesmo, e não se perde nada ao morrer jovem aqui.” 


A obra é verossímil, aborda temas como o desespero, medo, traição, pobreza, violência doméstica, violência sexual, trafico, machismo, preconceito a criminalidade em sua essência. O que torna a leitura angustiante, intensa e amarga. Sabe aquele choque de realidade, aquele chacoalhão de acorda, há vidas sendo interrompidas, infâncias sendo roubadas, famílias destruídas, jovens morrendo antes mesmo de terem a oportunidade de viver e tudo isso em nome de que? De quem? Por quê? A quem culpar? As escolhas erradas, a falta de oportunidade, o caminho tido como o mais fácil? Onde está a solução? Se é que existe uma, já que até quem deveria nos proteger muitas vezes foram corrompidos.


Quando iniciei a leitura já senti que seria pancada, um tapa na cara, mas confesso que ainda assim, mesmo conhecendo de certo modo a “realidade” da vida nas favelas, jamais imaginei que encontraria algo tão cru, intenso e doloroso. É importante ressaltar que o autor buscou retratar o lado mais “pesado”, o que não quer dizer que o dia a dia em uma favela seja apenas tiro, sangue e desespero.

“Anoitecia com um brilho trêmulo no ar, como se nada à volta fosse sólido, tudo enfumaçado, um cheiro insuportável de álcool rançoso, comida estragada, e aquelas bocas desdentadas rindo e catando lixo para comer.”


Este é meu primeiro contato com a escrita do autor Anatole Jelihovschi e fiquei muito satisfeita. Com uma narrativa leve, simples e cotidiana ele foi capaz de construir um enredo repleto de reflexões, com personagens intrigantes, complexos e que irão abalar seu coração.

Se recomendo a leitura? SIM. Ainda que seu enredo seja pesado, que a quantidade de sofrimento seja imensa, a história em questão é real e é preciso falar a respeito, olhar com outros olhos e assim ser capaz de vislumbrar onde melhorar para quem sabe ser capaz de oferecer um futuro melhor. Talvez seja ilusão desejar que algo mude, mas sou o tipo de pessoa que precisa repetir para si todos os dias, que o mundo é mais, que preciso ter fé, confiar e um dia tudo irá melhorar, as pessoas serão mais humanas, generosas, pensarão antes de agir, terão respeito pela VIDA – pela própria vida e de todos os demais. Um mundo onde não teremos que temer, que não iremos crescer em meio a choro, sangue e tiroteio. Onde todos, sem exceções encontrarão a felicidade e terão seus direitos básicos respeitados.

Como sempre falo aqui, é só lendo para saber e sentir. Então… Dê uma chance à obra.

Quero agradecer imensamente a EditoraJaguatirica pela oportunidade, pelo convite para ler a obra. Recebam meu carinho.

Essa capa é da 1º Edição.
Ficha técnica:
Romance Policial  | Editora Jaguatirica | Páginas: 152  | Ano:2017 | 2º Edição | Classificação: 4/5  | SKOOB

Compre aqui: Amazon – Saraiva –  Compare&Compre – LojaJaguatirica 

Até a próxima! Bye. 

LEIA TAMBÉM

0 comentário

Lili Aragão 15 de junho de 2017 - 16:45

Oi Bia, então esse não é o tipo de livro que procuro logo pra ler, mas as vezes receber esse choque de realidade é importante e assim curti ver a resenha dele por aqui e por ela deu pra perceber que o livro é impactante. Ainda não conhecia a editora do livro e vou passear pelo catálogo pra ver que outros livros além desse ela oferece 😉

Responder
Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 09:29

Oooii Lili.
Simmm, não é uma leitura muito fácil, acho que tudo que apresenta uma realidade tão crua choca e causa desconforto. Também não conhecia a editora, mas fiquei bem animada com alguns títulos.
Beijoooos

Responder

Deixe um COmentário