RESENHA: Rio Vermelho – Amy Lloyd | Faro Editorial

por Biia Rozante
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Não sei como me sinto. Estranho começar algo falando isso, parece até com uma sessão de terapia, mas a verdade é que essa frase faz todo o sentido neste momento, eu de fato não sei como me sinto em relação a essa leitura, a seus personagens e as emoções diversas as quais me deparei ao longo de cada página. Pensando bem, acho que a palavra que melhor define o que senti é inquietude, Rio Vermelho é o tipo de livro que deixa aquela coceirinha no estomago, aquela sensação de incredulidade misturada com assombro, porque lá no fundo nós – eu -, sabemos que o enredo não está muito longe da realidade.

Dennis Danson está cumprindo pena a vinte anos, ele foi acusado e condenado de cometer o assassinato brutal de uma jovem de onze anos, com requintes de crueldade e muita cautela na hora de se livrar do corpo. Holly foi a única vítima encontrada, mas estima-se que outras dezenas de jovens desaparecidas, também pertençam a sua longa lista de crimes. Entretanto, existem falhas na investigação, fatos que não foram apurados com a atenção que mereciam, pontas que parecem não se conectar, dando brecha para que um documentário seja feito sobre o caso, atraindo a atenção de fanáticos por crimes brutais e reais. Que passam dias discutindo suas muitas teorias em fóruns da internet, sempre buscando uma nova visão e ranhura para que possam “inocentar” seu “herói” que segue preso “injustamente”.

“(…) Permita que eu poupe algum tempo seu: muitas vezes, a resposta mais óbvia é a correta, aquela que está bem na sua frente o tempo todo.”


E é assim, que Sampassa a conhecer Dennis. Ela mora em Londres, quilômetros de distancia os separam, jamais se viram pessoalmente, mas algo sobre este homem atrai sua atenção, a tornando uma obsessiva em seu caso. E quando digo obsessiva, é no sentido literal da palavra, fazendo com que a mesma frequente cada vez mais os fóruns pró Dennis, buscando cada vez mais informações sobre seu caso, até o ponto de lhe enviar uma carta… lá na prisão. O resultado você já deve desconfiar… ele responde. E a cada carta a “amizade”, intimidade entre ambos vai aumentando, elevando o que sentem um pelo outro, até que Sam decide largar toda a sua vida, emprego, família e amigos para trás e assim, se casar com ele.

Obviamente que o sentimento que perpetua esse “relacionamento” é a esperança. Aquela pontinha de esperança de que o caso irá sofrer uma reviravolta, de que Dennis irá conseguir provar sua “inocência” e se ver livre da prisão, aquela esperança de que uma vida a dois possa ser construída, alicerçada e por quê não, feliz. Mas, nada sai como o esperado, e as esperanças começam a ruir, colocando em dúvida quem de verdade é Dennis Danson! Será que uma mentira repetida por várias vezes se torna de fato uma verdade irrefutável?

“(…) De repente, Sam se sentiu muito só, como se o homem com quem se casou nunca tivesse existido e ela tivesse acordado para uma vida que não reconhecia, no meio de uma história que não entendia.”


RIO VERMELHO é o tipo de leitura inquietante que vêm para perturbar seu leitor, no melhor sentido da palavra. Amy Lloyd construiu um enredo permeado de segredos, suposições, comportamentos obsessivos e paranoicos, um pouco de loucura e certa “previsibilidade”, ainda que empregada de maneira surpreendente. Eu sei, não estou fazendo muito sentido, mas de fato nada nessa história faz. Sam é… estranha, é uma mulher carente, possessiva, paranoica, eu diria até que instável, não é o tipo de protagonista por quem desenvolvemos afeição, não é carismática, pelo contrário, chega a nos deixar com raiva em alguns momentos. Já Dennis… o que falar. É difícil não esperar algo e acabar torcendo por outra coisa e então voltar ficar em dúvida. Ele é todo misterioso, com nuances, oscilações de comportamento e humor, sempre nos deixando com uma pulga atrás da orelha. Com uma infância judiada, pais relapsos e uma solidão que persiste em assolar seu coração, esse protagonista por diversas vezes me deixou na dúvida sobre o que desejar, pensar, ou até mesmo sentir em relação a ele.

O enredo é divido em três partes e cada parte vai gerando mais suspense e apreensão. Para mim o ponto alto da história está no momento em que Dennis consegue a liberdade, a maneira como ele lida com essa nova conquista, com as pessoas que sempre o apoiaram e lutaram para ajuda-lo, a construção do relacionamento agora real, entre ele e Sam. Seria de fato um recomeço? Vale ressaltar que ele está preso desde os dezoito anos, ou seja, tudo é uma grande novidade, o mundo fora das grades não é mais o que ele conhecia, ele mesmo não é mais o mesmo, ou será que é? Outro ponto que também chama a atenção são os questionamentos e reflexões que vamos fazendo ao longo da leitura, como por exemplo essa fascinação, deslumbramento com o “criminoso”, o tornando uma figura “sedutora”, a impressão que temos é que quanto mais cruel ou bárbaro o crime, mais atraente ele se torna. Não apenas para aqueles que gostam de criminologia e estudam o caso para realmente buscar “falhas” na investigação, mas para a legião de “fãs” que o individuo alcança. E falo isso com certa propriedade, pois temos casos bem conhecidos no Brasil, como por exemplo – O maníaco do parque – que ficou “famoso” após matar onze mulheres, foi preso e condenado e no auge de seu caso, chegou a receber mais de cem cartas durante uma semana. CARTAS de amor, paixão… escritas por mulheres. Crime e Glamour? Existe de fato essa romantização? 

Fica aqui minha sugestão de leituras para todos que estão em busca de uma leitura perturbadora, inquietante e viciante. Sim, por mais que a narrativa seja um pouco lenta no começo, ao longo dos capítulos vai se revelando mais fluida e impossível de largar. Gosta de ter seu psicológico revirado? De questionar o que está lendo? De suspense? Então, se joga na leitura de RIO VERMELHO, não preciso te lembrar que aqui só comento superficialmente sobre a minha experiencia de leitura, portanto nem sempre consigo expressar tudo que a obra tem a oferecer, ou seja, a única forma de saber se vai gostar ou não, é LENDO.

Preciso mencionar o quanto a edição da Faro Editorial está maravilhosa, capa, diagramação, tudo sobre ele está de muito bom gosto e carinho.


RIO VERMELHO – Amy Lloyd


Sinopse: Você acredita nele… então porque está com tanto medo? Uma combinação perfeita de A sangue frio e Making a murder! Como confrontar quem você ama quando você não tem certeza se quer saber a verdade? “Uma história original, madura e absolutamente real sobre obsessão. Amy Lloyd é um novo talento, surpreendente, está destinada a se tornar um grande nome da Literatura. Peter James Há vinte anos, Dennis Danson foi preso pelo assassinato brutal de uma jovem no condado de Red River, na Flórida. Agora ele é o assunto de um documentário sobre crimes reais que está lançando um frenesi online para descobrir a verdade e libertar um homem que foi condenado erroneamente. A mil milhas de distância na Inglaterra, Samantha está obcecado com o caso de Dennis. Ela troca cartas com ele e é rapidamente conquistada por seu aparente charme e bondade para ela. Logo ela deixou sua velha vida para se casar com ele e fazer campanha para sua libertação. Mas quando a campanha é bem sucedida e Dennis é libertado, Sam começa a descobrir novos detalhes que sugerem que ele pode não ser tão inocente…

Ficha técnica:
Thriller, Policial | Faro Editorial | 2018 | 1º Edição | 276 Páginas | Cortesia | Classificação: 4/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON

 Até a próxima! Bye.

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