* Resenha escrita originalmente para o blog Clã dos Livros.
“(…) Morar juntos tinha sido uma decisão precipitada — confusa, caótica, urgente e tão bela e real quanto a vida quando não se está pensando em suas consequências. Nós no tornamos uma tribo. Em seguida vieram as consequências. Conhecemos os parentes um dos outros, nos casamos, começamos a preencher declarações conjuntas de imposto de renda, nos tornamos uma família.”
“(…) Sentimos o tempo de forma diferente. Ninguém conseguiu captar completamente o que está acontecendo ou dizer por que. Talvez seja apenas porque sentimos uma ausência de futuro, porque o presente se tornou por demais avassalador, de modo que o futuro se tornou inimaginável. E, sem futuro, o tempo parece apenas um acúmulo.”
“Este país inteiro, disse o Papá, é um enorme cemitério, mas só algumas pessoas conseguem um túmulo decente, porque a maioria das vidas não importa. A maioria das vidas é apagada, perdida no redemoinho de lixo que chamamos de história, disse ele.”
”(…) Ele ergueu o copo, disse que Arizona, Novo México, Sonora, Chihuahua eram todos belos nomes, mas também nomes para designar um passado de injustiça, genocídio, êxodo, guerra e sangue. Disse que queria que nos lembrássemos desta terra como uma terra de resiliência e perdão, também como uma terra onde a terra e o céu não conheciam divisão.”
Sinopse: Mesclando a crise familiar com a crise política do país, Arquivo das crianças perdidas mostra uma empatia única com a situação atual. Através de diversas vozes, sons e imagens, Valeria Luiselli cria um romance virtuoso. Uma família viaja de carro de Nova York para o Arizona durante as férias de verão, com o objetivo de chegar até a terra dos Apaches. No carro, eles passam o tempo como podem, com jogos e música, mas no rádio a notícia da “crise da imigração” não para de aparecer. Centenas de crianças cruzam a fronteira do México para os Estados Unidos só para serem presas do outro lado ― ou pior, ficarem perdidas no deserto. Conforme a família passa pelos estados do Tennessee, Oklahoma e Texas, a crise que eles mesmos enfrentam se torna mais clara. Os pais se distanciam cada vez mais, e as crianças ― um menino e uma menina ― são puxadas para o abismo que se abre. Um livro de temática ampla, Arquivo das crianças perdidas reflete a onipresença da “crise da imigração” ao deixá-la como pano de fundo constante ― Luiselli nunca traz a política para o foco de sua narrativa, mas sempre a insere no contexto. Arquivo das crianças perdidas é também uma crítica à tecnologia, uma análise sobre a volta do rádio como importante meio de comunicação, a estética vintage, entre outros. Mas seu maior tema é a escuta: este livro mostra como precisamos escutar tudo a nossa volta para melhor entender o mundo em que vivemos. “Nas mãos de Luiselli, o romance volta a sua melhor forma: eletrizante, elástico, impressionante e novo.” ― The New York Times “Traz para o centro da discussão os erros que estão sendo cometidos com as crianças imigrantes. Além de pedir que a complacência cega seja deixada de lado.” ― LA Review of Books “Uma impressionante mistura de empatia e intelectualidade que mostra a habilidade de Valeria Luiselli em conjugar político, histórico e pessoal.” ― NPR “Valeria Luiselli se recusa a aceitar um mundo pior.” ― The Washington Post