A Devolvida – Donatella Di Pietrantonio | Faro Editorial

por Biia Rozante
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Aos 13 anos, tudo que uma menina que ama sua família não é espera, é descobrir que aqueles que sempre a criaram não são seus pais e que ela está sendo devolvida para sua família biológica. O ano é 1975, em uma pequena cidade no norte da Itália, a menina como vamos conhecer como a devolvida, cresceu como filha única, em um lar abastado, cercada de amor, cuidado e proteção, sempre foi incentivada a estudar, a aprender, a se tornar uma melhor versão de si mesma, precisará agora se adaptar a uma realidade oposta, a uma família que ela não conhece, e que parece nunca ter sentido a sua falta. Os pais que conhecia na verdade eram seus tios, e seus pais biológicos são pessoas paupérrimas e donos de uma família numerosa, sua vida agora é de escassez, brusquidão e indiferença, não lhe falta somente respostas, e bens materiais, falta o principal, afeto. A devolvida, é assim que todos a chamam, é assim que ela fica marcada em sua nova cidade, como a enxergam, uma estrangeira em sua própria casa. Se sentindo estranha, perdida, ela sente como se não pertencesse aquele lugar, naquela família, e não consegue compreender o porquê de ali estar, do porquê de ela ter sido devolvida, ou melhor, porque ela foi dada embora para começar. E o questionamento que mais doí, é por que sua amada mãe, aquela que a criou, não despediu? Enquanto tenta se adaptar a sua nova realidade, ela também irá buscar respostas para todas essas perguntas, e no meio de tudo isso, irá encontrar um laço tão intenso, que ela jamais pensou ser possível.

“(…) Eu fiquei órfã de duas mães vivas. Uma me entregou quando eu ainda tinha seu leite na língua; a outra me devolveu quanto eu tinha treze anos. Eu era a filha de separações, de laços de parentesco falsos ou omitidos, de distâncias. Não sabia mais de quem eu provinha. No fundo, até hoje não sei.”

Caros, leitores! A Devolvida, foi uma leitura que me agradou e desagradou em pontos bem específicos. Primeiro irei falar sobre o que gostei na história, a jovem devolvida, só tem treze anos quando é deixada na porta de sua família biológica, sem nenhuma explicação, conversa, ou compreensão sobre o que está de fato acontecendo, essa menina precisa se adaptar da maneira mais abrupta e sofrida, a uma vida que ela nunca teve contato antes, uma realidade que agora é cercada por miséria, violência, desconfiança, indiferença e medo. Tudo neste lar é oposto ao que ela conheceu, sua “nova” família, embora numerosa, parece viver cada um em seu próprio mundo atribulado, é disfuncional, e por isso se torna tão importante para ela, criar um vínculo, um laço, com a sonhadora e impulsiva Adriana, sua irmã mais nova, que não tem papas na língua, cheia de vida, e que apresenta a esta jovem devolvida, alternativas para enxergar essa realidade, que mesmo simples, pode oferecer pequenas doses de diversão e um amor puro e indestrutível. Assim como, o rebelde e determinado Vincenzo, que também terá seu papel importante aqui nessa história.

Toda a adaptação é muito sofrida, é difícil não fazer um paralelo com a nossa realidade e pensar em quantas crianças vivem essa mesma realidade de negligência, abandono, descaso… Em como deve ser doloroso não sentir que pertence, que te enxergam de alguma forma. Então, este é um ponto que te tira da zona de conforto, que te choca e te faz pensar a respeito. E todo esse fardo, ainda está atrelado ao fato de que ela sofre pela única mãe que conheceu, que tanto ama, e de quem nem conseguiu se despedir, mas que está envolta em uma aura de mistério… ela não tem noticias desta mulher, não consegue falar com ela, não compreende o que aconteceu para que ela a abandonasse do nada. Ainda preciso mencionar, que para mim o ponto alto de toda a narrativa, é a relação que a jovem devolvida desenvolve com Adriana, – sua irmã mais jovem, que mais parece uma adulta, uma sobrevivente -, é simplesmente como o desabrochar de uma flor, é um processo diário e lindo, o laço que elas desenvolvem é forte, é generoso, é de sustentação, e eu amei acompanhar.

“Com o tempo, perdi também a ideia confusa de normalidade e, hoje, ignoro de fato qual lugar seja o de uma mãe. Isso me falta, do mesmo modo que pode faltar saúde, proteção, certezas. É um vazio persistente, que conheço, mas não supero. Olhar para o nosso interior dá vertigem. É uma paisagem desoladora que à noite tira o sono e fabrica pesadelos no pouco que deixa. A mãe que nunca perdi é a mãe dos meus medos.”

E todos esses pontos, que levantei até aqui, torna essa leitura intensa, carregada de sentimentos e pontos que são capazes de alcançar o leitor do outro lado das páginas. Nos afeiçoamos a protagonista e todas as suas jornadas, é impressionante o quanto ficamos querendo dar continuidade na leitura, e mesmo que as revelações por trás de cada ação sejam complicadas e devastadoras, confesso que ficou aí, o que me desagradou na história… o motivo ainda que complicado como mencionei anteriormente, não me pareceu sólido, forte o bastante para justificar a atitude de abandono. A sensação que fiquei em determinado momento, foi que a jovem devolvida se tornou um projeto de caridade, e que alguém que a amava com a intensidade do amor de uma mãe, não abriria mão de sua filha… ainda existiu uma outra situação, que me deixou inquieta e pensando muito a respeito… enfim, é difícil ficar explicando sem poder mencionar os fatos, é como falei, é uma leitura que te tira da zona de conforto, que te faz pontuar ambos os lados e aí… cada leitor vai formar a sua própria opinião a respeito do que leu.

Fica aqui essa dica leitura, A DEVOLVIDA com certeza é aquele tipo de livro que divide opiniões e que pega cada leitor de um jeito diferente, mas que vale muito a pena ser lido. Relações familiares, amadurecimento, superação, segundas-chances, emoções cruas e carregadas. Essa obra pode e com certeza, irá te marcar de alguma forma.

A DEVOLVIDA

Sinopse: Considerado um dos grandes romances da Itália, onde vendeu mais de 250 mil exemplares, com direitos negociados para mais de 25 países, e adaptações no teatro e no cinema, a autora Donatella Di Pietrantonio traz uma história sensível e emocionante. Aos 13 anos, uma garota é levada do lar abastado onde vive para uma casa estranha e com pessoas que dizem ser seus pais e irmãos. Na pequena cidade italiana todos conhecem sua história: ela é a criança que os pais naturais, pobres e de família numerosa, “deram” a um parente que não podia ter filhos e que este a devolveu quando a menina frequentava o ensino médio, não por maldade, mas porque a vida pode ser mais complexa do que imaginamos e nos força a fazer escolhas dolorosas. Ela era a devolvida. Sentia-se como uma estrangeira na nova casa e, desde então, a palavra “mãe” travara em sua garganta. Privada até de um adeus por aqueles que sempre acreditou serem seus pais, ela se vê incrédula ao enfrentar o sofrimento de ser abandonada novamente de forma repentina. “Minha vida anterior me distinguiu, me isolou na nova família. Quando voltei, falava outra língua e não sabia mais a quem pertencia”. Forçada a crescer para reintegrar-se ao seu núcleo original, ela vive uma sensação de subtração, de gente esvaziada de significado, e nos ensina em meio à dor como encontrar sentido quando tudo parece desmoronar.

Ficha técnica:

Drama | Donatella Di Pietrantonio | Faro Editorial | 1º Edição | 2019 | 160 Páginas | Tradução: Mario Bresighello | Cortesia | Classificação: 3,5/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON

Até a próxima! Bye.

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