Georgie é a 34º na linha de sucessão ao trono, filha de um duque escocês, e uma atriz britânica, que infelizmente não permaneceram casados por muito tempo. Sua mãe não conseguiu se manter presa na Escócia, dentro do castelo de Rannoch e partiu, deixando-a para trás, ainda que George sempre fosse visita-la quando constatado que era apropriado. Seu pai por sua vez, não lidou muito bem com a fuga da esposa, desolado passou a vagar pela Europa gastando o dinheiro da família, até perder tudo em definitivo, com a quebra da bolsa em 1929, se sentido culpado e desesperado, ele toma uma atitude drástica e deste modo, o meio-irmão de George, Binky se torna o terceiro duque, faz um bom casamento, herda a propriedade e assume seu posto. E George… bem, ela aos dezenove anos se dá conta de que estava sozinha e por sua própria conta.
Inteligente e sagaz, Georgie tem o beneficio de ter tido uma educação privilegiada, e está ciente que esperam dela um bom casamento, com alguém nobre, de alguma das famílias reais que ainda restam, só que não é isso que ela quer. Ainda que desprovida financeiramente, sem saber nada sobre o mundo fora das imediações do castelo Rannoch, ela se muni de determinação e coragem, e toma a decisão de ir para Londres, lembrando que ela não tem nenhuma fonte de renda, não pode se dar ao luxo de levar nenhum criado, e assim estar se lançando ao desconhecido sozinha, tendo como destino a casa fechada da família, Rannoch House, ao qual ela está autorizada a usar um dos quartos. E então, ela se depara com outro problema, como ela irá se sustentar e sobreviver sozinha em uma casa grande e fria, onde nem mesmo uma lareira ela sabe ascender.
“— Tudo é justo no amor e na guerra — retruquei —, e estamos em guerra.”
Mas engana-se quem pensa que isso irá fazer essa jovem bem-nascida baixar a cabeça ou temer seu destino. Muito pelo contrário, todos os obstáculos só fazem com que Georgie, tenha mais certeza sobre o que quer, ser independente e dona de suas escolhas, ainda que a Rainha demonstre ter outros interesses para seu futuro, a Rainha também lhe dá uma importante missão, se tornar uma espiã da realeza e passar as informações para ela a cerca de uma mulher de reputação duvidosa que vem se aproximando perigosamente de seu filho. Georgie, aceita a missão. E entre tentar encontrar um trabalho, fazer novas amizades, descobrir o amor e aprender o básico para sobreviver, ela também terá que ir em socorro a Binky, que está sendo acusado de matar um homem, encontrado morto dentro de Rannoch House.
A ESPIÃ DA REALEZA, acabou se revelando muito diferente daquilo que eu esperava. E com isso, não estou dizendo que me decepcionei, e sim que mesmo tendo sido apresentada a um enredo diferente daquele que eu estava aguardando, recebi uma grata surpresa. Leve, despretensioso, divertido, para se ler uma tarde, na companhia de um café, ou se preferir, de um chá. Georgie é nossa protagonista, jovem, inteligente, divertida e um pouco atrapalhada, eu ri muito com ela ao longo dos capítulos, mesmo tendo nascido em uma família que pertence a realeza, ela não se deixa “iludir”, está muito ciente da realidade ao qual está vivendo, de não ter nenhum tostão nos bolsos para se manter, mas muito vontade de tornar sua liberdade e independência algo concreto, e irá se jogar de cabeça na busca de suas habilidades. Óbvio que, pertencer a família da rainha lhe oferece certo prestigio, assim como falar bem, ter uma boa educação, só que isso somente não basta, Georgie precisa de um diferencial, de algo que a coloque no mercado de trabalho e lhe pague o suficiente para cobrir suas despesas. Ao longo de sua jornada ela também irá encontrar amigos leais e tão insanos quanto ela, dispostos a tudo por uma boa refeição. E não podemos nos esquecer de seu avô, sempre cheio de amor e ensinamentos valiosos, ensinamentos esses que serão fundamentais para quando Georgie, encontrar um corpo sem vida, na banheira de sua casa… O principal suspeito é seu meio-irmão, que chegou na cidade por aqueles dias, trazendo na mala um problema novo para a situação já complicada da família. Agora cabe a Georgie, investigar o que de fato aconteceu, quem realmente é o homem morto e quem está querendo incriminar sua família, antes que seja tarde demais.
“(…) Fomos escoltados ao subir um lance de escadas e entramos em uma salinha sem graça que dava para o pátio e exalava um odor rançoso de tabaco. O inspetor puxou uma cadeira para mim do outro lado de uma mesa. Eu me sentei. Binky fez o mesmo. O inspetor nos examinou, parecendo bem satisfeito consigo mesmo, pensei.”
O que mais gostei na história, é que o enredo é muito mais sobre a jornada de Georgie, tentando se adaptar a vida “comum”, onde precisa trabalhar para se sustentar, sendo destemida, determinada e muito segura do que acredita, defendendo sua família com muita força, mesmo que nem sempre eles mereçam, do que propriamente sobre a investigação e o mistério em si. Eu gostei de como a autora tira essa jovem do seio familiar, ou melhor dizendo, das garras de sua cunhada e meio-irmão e a leva a explorar a cidade, e a se conhecer melhor, descobrindo o amor, a amizade, e refinando sua astucia. Outro ponto que também gostei bastante, é que a autora se usa de momentos históricos e personas reais, ainda que com liberdade criativa, como por exemplo, a grande depressão que aconteceu em 1929, quando a bolsa quebrou, e fez de muitos miseráveis. E a menção de figuras como a rainha Mary. E ainda preciso mencionar a forma “natural” como as personagens femininas comentam sobre as mudanças dos tempos, sexualidade, escolhas, trabalho, buscando mais liberdade e independência que não seja um casamento. Sobre o mistério em si, eu gostei, não foi algo que me pegou de surpresa, mas ainda assim, gostei de como a autora trabalhou, foi coerente com a proposta do livro de entregar um enredo mais leve, rápido e fluido.
Enfim, caros leitores. Se você está à procura de uma história rápida, leve e aconchegante, A Espiã da Realeza é uma ótima opção. Eu poderia dizer que é um livro que aborda vários gêneros dentro dele, romance histórico, chicklit, mistério… é uma experiência diferente realmente, mas ainda assim, muito gostosa. Quero frisar, apesar de já ter deixado entendido sobre como a história funciona, que realmente temos algo leve e não focado completamente na investigação, portanto irei chamar de mistério água com açúcar, ou se preferir, mistério sessão da tarde. Deem uma chance.
A ESPIÃ DA REALEZA
Sinopse: Apesar de ser a 34ª na linha de sucessão ao trono inglês, lady Victoria Georgiana Charlotte Eugenie de Glen Garry e Rannoch – Georgie para os íntimos – está totalmente falida. Para continuar se mantendo, ela tem duas opções: se casar com um príncipe com cara de peixe ou se tornar acompanhante de uma tia idosa e reclusa. Georgie se recusa a aceitar qualquer um desses destinos deprimentes e decide ir sozinha para Londres em busca de emprego e liberdade. Mas antes que consiga qualquer uma dessas coisas, é convocada para um chá com a própria rainha, que a incumbe de espionar o príncipe de Gales e sua amante americana. Enquanto tenta se desdobrar para arranjar um trabalho remunerado e ao mesmo tempo bancar a detetive para Sua Majestade, Georgie chega em casa um dia e encontra, morto em sua banheira, o francês arrogante que estava reivindicando a posse da propriedade ancestral dos Glen Garry e Rannoch. Agora ela terá que usar seus dotes investigativos recém-descobertos para provar a inocência de sua família e limpar seu sobrenome. Para isso, contará com a ajuda de um avô de sangue nada azul, de uma antiga amiga de escola e de um irlandês bonitão de linhagem nobre porém tão pobretão quanto ela.
Ficha técnica:
Mistério, Ficção | Rhys Bowen | A Espiã da Realeza, Vol. 1 | Editora Arqueiro | 2022 | 1º Edição | 272 páginas | Coleção Mistérios em Série | Tradução: Livia Marina Koeppl | Cortesia | Classificação: 3,5/5 | Onde encontrar: AMAZON – SKOOB
Até a próxima! Bye.