Sal Casillas é completamente apaixonada por futebol desde que se entende por gente. O esporte tem um grande espaço em sua família, seu pai sempre foi um torcedor ferrenho, seu irmão se tornou jogador profissional, assim como ela. Obstinada e destemida, enfrentou a reprovação até da sua mãe e se dedicou mais que qualquer pessoa para conseguir chegar aonde chegou, uma atleta de ponta, que sabe o que quer, que treina com afinco e que busca a vitória incansavelmente. Inteligência, talento e esforço a tornaram uma titular forte em campo, sempre respeitando as suas colegas de time e abraçando as novatas com carinho e palavras de apoio. Uma nova temporada da liga profissional feminina está para começar, os treinos serão retomados, e já sabe que uma novidade será anunciada, o time terá um novo treinador assistente, Sal só não esperava que fosse ser justamente Reiner Kulti. O responsável por virar a chavinha e fazer com que ela tivesse certeza de seguir a carreira de jogadora, o ídolo de sua infância, adolescência, seu grande amor platônico, o herói, Kulti, o homem que mesmo sem conhecê-la partiu seu coração profundamente, o jogador indomável que quebrou a perna do seu irmão sem nenhum remorso. Simplesmente, Kulti.
Sal consegue compreender os benefícios que ele pode oferecer para o time, como por exemplo atrair patrocinadores, para seu total desespero atrair mídia, só que lidar com sua presença se revela um desafio gigantesco. Ela precisa conciliar sua admiração de fã, o fato de um dia tê-lo amado com todas as suas forças, e também com o fato de agora conhecer um outro lado do mesmo, a versão em que Kulti é um babaca completo, que parece não se importar nenhum pouco com o time, parado na lateral do campo apenas observando, como se elas não valesse o seu tempo. E olha… que esse é apenas o começo de tudo.
“(…) Você pode fazer tudo o que quiser, desde que se importe o suficiente.”
Caros leitores! Mariana Zapata merece a coroa de rainha do slow burn, que escrita preciosa e encantadora. Vocês já devem ter notado que eu me tornei fã de carteirinha da autora. Mas sério… KULTI, foi mais uma grata surpresa – vou fazer uma observação, para mim o livro deveria se chamar SAL, porque essa personagem é incrível. Ela rouba a cena facilmente -, mas como eu ia dizendo, aqui na história conhecemos a Sal, uma mulher forte e determinada, apaixonada por futebol, sempre treinando com muito afinco para conseguir se manter bem fisicamente para ter um desempenho exemplar em campo, só que “pasmem” quando não está treinando, ela está TRABALHANDO, sim ela tem um emprego depois dos horários de treino, ela trabalha com paisagismo para conseguir pagar as contas. Mariana foi certeira em trazer esse tema de maneira muito natural, inserindo essa realidade tão presente na profissão até hoje, exemplificando e provando em diversas cenas, o quanto a mulher precisa batalhar muito mais para se manter no futebol e ser reconhecida e até mesmo valorizada por isso. Onde patrocinadores não aparecem aos montes, a venda de ingressos não é expressiva, já que em grande maioria quem frequenta os jogos são familiares e amigos, e infelizmente como até mesmo a própria diretoria do time que elas defendem não as respeitam.
Sal é dona de um coração gigante, ela é generosa, gentil, com uma língua afiada e pronta para defender quem ela ama e como vocês já devem ter percebido, vai na contramão das mocinhas que conhecemos. Ela está bem sozinha, seu foco é sua carreira como jogadora, ela está batalhando muito para ter sucesso, não tem sua aparência como prioridade, romance não faz parte dos seus planos. E sim, ela nutriu um amor/admiração/respeito por Kulti quase que sua vida toda, mas isso ficou no passado… ela agora usa suas meias de menina crescida e pode lidar com ele como treinador. Obvio que em certo nível a presença dele a intimida, o homem é incrível mesmo estando aposentado, e uma verdadeira geleira humana, frio, distante, inabalável, pelo menos até que uma pequena conversa SUPER sincera onde apenas um deles falou, no caso a Sal, muda as coisas. Kulti passa a perceber que Sal, pode ser uma amiga enquanto ele estiver ali, só que essa aproximação pode acabar destruindo tudo que ela lutou para ter.
“(…) Quando algo é quebrado em tantas partes, não se pode simplesmente ficar encarando-as e tentar colar os cacos; às vezes, tudo o que dá para fazer é varrer os pedacinhos e comprar algo novo.”
Se você está buscando por uma leitura divertida, interessante, sentimentos à flor da pele, personagens verossímeis e um romance impecável, KULTI é a opção certa de leitura para você. Mariana Zapata, entregou um enredo encorpado, trabalhando não apenas a relação dos protagonistas, mas tudo aquilo que os cercam. Temos relações familiares, e preciso ressaltar principalmente a relação da Sal com seu pai, eles são como melhores amigos, é lindo ver eles interagindo e o pai da Sal é uma figura, dei muita risada com as reações dele ao longo da leitura. Outro ponto que preciso mencionar é como a Sal lida com as expectativas da mãe. E o próprio desenvolvimento da Sal como personagem, conhecemos seu lado guerreiro, trabalhadora, mas também suas vulnerabilidades, medos, escolhas no passado que a marcam até hoje. A relação dela com as demais jogadoras do time, e seu melhor amigo, que também é seu sócio… é quase como se tornar parte da vida dela. E então temos o Kulti, este alemão ranzinza, que acaba se revelando um personagem de muitas camadas, o grande ídolo, o herói, sua versão babaca, distante e fria, o homem generoso, o grandão ciumento, que não sabe como lidar com o que está sentindo, sua versão fofa, o profissional brilhante… é impossível não amar acompanhar essa história, a construção deste romance.
O livro até pode ser um calhamaço, mas a leitura é rápida, fluida, leve, maravilhosa e eu sempre termino querendo ter outro livro da Zapata para pegar e ler em seguida. Por mais que a autora tenha uma “receita” em seus enredos – relações familiares, amizade, construção de um relacionamento, desenvolvimento individual de personagem -, cada livro é único e muito especial, nada parece mais do mesmo. Começar a ler Zapata é um vício sem cura.
“(…) — Você é a melhor coisa e a mais honesta que já tive. Não vou negar isso a ninguém.”
E para não me acusarem de só vomitar arco-íris, irei fazer algumas ressalvas. Primeiro, existe algumas palavras, escolhas de frase que gera aquela incomodadinha. Outra coisa, o irmão da Sal, o Eric, é um personagem que é muito mencionado ao longo da história, ele é relevante para o enredo, e eu senti que justamente por isso, faltou ele de fato aparecer, eu fiquei esperando ele ter um confronto com o Kulti, uma conversa cara a cara com a Sal, e isso não acontece – vou ficar torcendo para que ele tenha um livro sobre ele? CLARO. Mas, ainda assim, nenhum destes pontos que levantei diminuem o quanto o livro é bom. E é por isso que se tornou mais um cinco estrelas da autora pra mim.
Fica aqui essa super dica de leitura. LEIAM, Kulti. Leiam, Mariana Zapata, se façam esse favor.
KULTI – Mariana Zapata
Sinopse: Acredite em mim, já tive vontade de socar seu rosto uma vez ou cinco. Quando aquele homem que você adorava quando criança se torna seu treinador, era para ser a melhor coisa do mundo. Palavras-chave: era para ser. Não demorou nem uma semana para Sal Casillas, de 27 anos, se questionar o que tinha visto naquele ícone do futebol internacional por que tinha pendurado pôsteres dele na parede do seu quarto, ou por que tinha imaginado se casar com ele e ter seus bebês craques de futebol. Já fazia muito tempo que Sal havia superado o pior não rompimento da história dos relacionamentos imaginários com um homem que nem sabia que ela existia. Por isso, Sal não está preparada para essa versão de Reiner Kulti que aparece para treinar sua equipe naquela temporada: uma sombra silenciosa e reclusa do homem explosivo e apaixonado que ele costumava ser. Nada poderia tê-la preparado para o homem que ela conheceu. Ou para os impulsos assassinos que ele despertava nela. Essa ia ser a temporada mais longa da sua vida.
Ficha técnica:
Slow Burn | Mariana Zapata | Editora Charme | 1º Edição | 2022 | 568 páginas | Tradução: Mariana C. Dias | Cortesia | Classificação: 5/5 | Onde encontrar: SKOOB – AMAZON – LOJA CHARME
Até a próxima! Bye.
2 comentários
Oii!
Adorei a resenha! Não lembro de ter lido algum livro com esse tema antes e concordo que foi uma boa escolha. É triste que o futebol feminino seja tão desvalorizado, mesmo com atletas incríveis sendo citadas na mídia com frequência.
Já ouvi falar da autora, mas não li nenhum livro dela ainda. Este livro é um bom começo?
Beijos
Oiiii. Obrigada por seu carinho. Mariana Zapata é uma autora incrível, talentosíssima, a cada livro dela eu me torno mais fã.
Kulti é uma ótima porta de entrada para ler a autora, o livro é divertido, fluido, debate assuntos importantes de maneira muito leve.
Vou torcer para que leia, e que assim como eu, ame a História.
Beijos