Caros leitores, conclui a leitura de TODAS AS BOAS PESSOAS DAQUI há algumas semanas e por mais que eu tentasse colocar em palavras a minha experiência de leitura, nada parecia certo, ou bom o suficiente para explicar este turbilhão de emoções, este é o tipo de livro que fica com a gente, mesmo após o ponto final. Principalmente por ter pontos muito específicos aos quais sempre conversam muito comigo; o cuidado com um familiar doente, crianças em situações vulneráveis, e a sensação agonizante de impotência que o final deste livro proporciona. Irei fazer o meu melhor para conversar com vocês sobre ele, sem soltar spoilers.
Margot é uma jornalista investigativa que está vendo sua vida virar do avesso. Ela está de volta a cidade que pensou nunca mais retornar, a minúscula e pitoresca Wakarusa, em Indiana. Seu trabalho não está recebendo a atenção que deveria, e a preocupação com seu tio Luke só aumenta à medida que sua doença piora e requer mais cuidados. Estar ali faz com que uma avalanche de emoções a alcance outra vez, Margot tinha apenas seis anos, quando January, sua vizinha e melhor amiga foi assassinada, e esse crime hediondo mexeu com toda a cidade e principalmente com ela que sempre pensou que poderia ter sido a vítima, o assassino nunca foi encontrado, e o caso se tornou um grande mistério. Vinte anos se passaram, e uma nova garotinha desaparece em uma cidadezinha próxima da sua, Natalie Clarke, cinco anos, tem seu rostinho sorridente em todos os noticiários, é esta presente em todos os círculos de conversa, os crimes parecem apresentar semelhanças, será que se trata do mesmo assassino?
“(…) Tudo o que ela sabia era que ele era uma peça que faltava em seu quebra-cabeça, e ela não podia identificar a imagem até que entendesse onde ele se encaixava.”
Aparentemente essa opinião se reserva somente a ela, já que ninguém parece fazer questão de investigar, fazer as perguntas certas e revisitar o crime que há tantos anos causou o maior frisson. Mas, será que é uma boa ideia remexer no passado? E investigar o crime atual, oferece algum risco? Talvez, alguns segredos fiquem melhor quando guardados e enterrados.
Mas… para que você tenha um melhor gostinho do que encontra aqui e da complexidade da investigação, precisamos retornar para 1994, é lá que conhecemos Krissy, uma adolescente cheia de sonhos, que amava dançar, e que acabou vendo todos os seus planos ruírem diante de uma gravidez não planejada, sim ela é a mãe de January, e como vocês devem imaginar, em determinado momento ela também é tida com a assassina… Imagina viver o luto e a acusação ao mesmo tempo e de maneira tão intensa? Vendo sua casa virar alvo, sua família se desestruturar completamente? São seus capítulos que trazem algumas peças para esse quebra-cabeça doloroso, são eles que fazem algumas conexões, e que carregam a angústia de alguém que tinha tantas certezas…
TODAS AS BOAS PESSOAS DAQUI, é um baita livro de suspense investigativo. Margot é o tipo de personagem que se conecta facilmente com o leitor, ela está batalhando muito para conseguir equilibrar todas as nuances da sua vida, cuidar do tio Luke, que é o homem que ela tem como figura paterna, que sempre a incentivou e apoiou incondicionalmente, e que agora enfrenta uma doença terrível que tem roubado sua lucides. A sua conta bancária que parece zombar toda vez que ela consulta o extrato, e o emprego que ela não tem conseguido focar e entregar seu melhor, uma vez que ainda está buscando uma maneira de se adaptar a sua nova vida. Ela é uma jovem inteligente, talentosa, mas humana, com falhas, com imperfeições, que foi impactada por um crime que aconteceu ao lado da sua casa há tantos anos e que mexeu com ela mais do que ela acreditava e até entendia. E que agora está determinada em obter respostas e se possível conectar os dois crimes.
“(…) O que estou querendo dizer é que aquela noite arruinou a porra da minha vida. Claro que pensei em quem poderia ter feito aquilo. Eu penso nisso todos os dias. E eu não sei.”
Este é o tipo de livro que não podemos entrar em muitos detalhes, mas que posso dizer sem errar, que é uma ótima leitura, o enredo é bem construído, com muitas camadas e personagens intrigantes, à medida que Margot mergulha em busca de respostas, vamos sendo bombardeados por acontecimentos e segredos que passam a pairar sobre a cabeça de muitas pessoas, que se tornam suspeitas aos nossos olhos. É de fato uma história permeada de reviravoltas, com uma teia bem tecida e uma narrativa que brinca em desviar nossa atenção para os lugares errados. A escrita da autora é fluida, leve, bem desenvolvida, com viradas narrativas bem pontuadas, e o clímax… o final deste livro é daqueles de nos fazer querer tacar o livro na parede.
Este é um livro sobre relações familiares, o peso de segredos, ocultações, mentiras… Sobre sonhos, perdas, luto. Sobre como a mídia é capaz de contar uma história completamente diferente dos fatos, apresentando uma narrativa que é comprada como verdadeira por seus telespectadores e como isso impacta uma investigação de maneira negativa. Uma interferência que poderia ser bem-vinda, mas que infelizmente em sua grande maioria só atrapalha.
“(…) A mídia nos fez parecer loucos, mas éramos só uma família comum. Podemos não ter sido felizes, mas éramos normais.”
Então é isso, se você busca por uma história intrigante, com aquele gostinho de impotência e um final… recomendo muito esta leitura. Estou ansiosa por mais da autora. A Faro Editorial, arrasou mais uma vez na edição linda.
Uma curiosidade que achei legal comentar aqui, a autora Ashely Flowers, é uma podcaster sobre crimes reais, e o sucesso do podcast permitiu que ela criasse uma ONG focada em fornecer recursos financeiros na busca por justiça e para ajudar na reabertura de casos não solucionados.
TODAS AS BOAS PESSOAS DAQUI
Sinopse: “Ashley Flowers levou a paixão pela investigação de crimes reais a um novo patamar… Este é o livro de mistério da atualidade.” REVISTA PEOPLE Todos naquela cidade se lembram do infame caso de January, a menininha que foi encontrada morta horas depois ao seu desaparecimento. Margot tinha seis anos na época, a mesma idade de January – elas eram amigas e vizinhas. Vinte anos depois, Margot amadureceu, formou-se em jornalismo, mudou-se para outro estado, mas sempre viveu assombrada por aquele crime, e com a ideia de que poderia ter sido ela a escolhida pelo assassino… que nunca foi encontrado. Quando retorna à cidade para cuidar de seu tio, Margot sente como se tivesse entrado em uma cápsula do tempo: tudo se parece exatamente como se lembrava – um lugar habitado por pessoas reprimidas e reservadas. Até que outro caso acontece. Natalie Clark, de cinco anos, desaparece em circunstâncias quase idênticas às da menina da sua infância. Com todos os sentimentos de pavor voltando, Margot se vê sem saída. Ou surta ou age. Ela decide, então, investigar o que aconteceu com Natalie e também com sua amiga na infância. Mas a polícia, as famílias e os habitantes da cidade não parecem muito dispostos a ver alguém revirar o passado. À medida que Margot se aprofunda no desaparecimento de Natalie, ela começa a suspeitar de que há algo verdadeiramente sinistro naquela comunidade: uma espécie de pacto de segredos que pode destruir a vida de muita gente. O assassino de January pode ser a mesma pessoa que levou Natalie? E qual será o risco que ela corre ao tentar descobrir o que realmente aconteceu naquela noite vinte anos atrás? Arrepiante e intenso, Todas as boas pessoas daqui é uma história intrigante, que propõe aos leitores a seguinte pergunta: do que seus vizinhos são capazes de fazer atrás de portas fechadas?
Ficha técnica:
Thriller, investigativo, psicológico | Ashely Flowers | Faro Editorial | 2023 | 1ª Edição | 256 páginas | Tradução: Fernando Silva | Classificação indicativa: | Cortesia | Minha avaliação: 4,5/5| Onde encontrar: SKOOB – AMAZON
Até a próxima! Bye.