GRAÇA – Beverley Watts | Faro Editorial

As Irmãs Shackleford - Livro 1

por Biia Rozante
0 comentário

Eu fico profundamente triste, quando preciso chegar aqui e falar que não gostei de uma leitura. Principalmente, quando se trata de um dos meus gêneros queridinhos – romance de época -, GRAÇA, foi essa leitura, ela é um grande QUASE. Com uma premissa que me deixou animada, casamento por conveniência, uma jovem fora dos padrões, autentica e decidida, um duque atormentado pelos traumas do passado em campo de batalha e um título que nunca desejou… tinha tudo para dar certo, mas infelizmente prometeu muito e não entregou nada.

Graça é a filha mais velha dos nove filhos, do reverendo Augusto Shackleford, que tem como meta assegurar um futuro brilhante para seu filho mais jovem e único homem, para isso, ele sabe que precisa garantir bons casamentos para suas filhas, o problema de acordo com seu ponto de vista, é que as jovens damas, ou melhor, as jovens que deveriam ser damas, são na verdade indisciplinadas, desprovidas de recato, sensatez e modos capazes de atrair alguém de boa índole e posses, ou seja, a missão sobre suas costas é árdua e praticamente impossível. Por isso, quando é convocado pelo novo duque de Blackmore, que expressa sua intenção de conseguir uma esposa entre suas filhas, fica mais do que feliz e disposto em conceder a mão de sua filha mais velha sem nem hesitar. Obviamente, que Graça, não terá escolha, ela irá se casar com o duque, mesmo sem o conhecer de verdade. Dois estranhos unidos por um casamento de conveniência.

“Bem, se o marido achava quer ela era uma maldita tola, ele estava prestes a se surpreender.”

Até aqui, tudo certo. Afinal de contas, a ideia de um casamento arranjado, entre um duque recém chegado, tido como herói de guerra, e uma jovem de espirito livre, que nunca teve se quer contato com a nobreza seria no mínimo divertido… só que infelizmente, Graça acaba por tropeçar em sua própria sede de inovar e não consegue equilibrar todos os elementos – humor, drama, crítica social e romance.

Caros leitores, vamos lá. Primeiro, é inegável a fluidez do texto, e que temos boas passagens de humor, alguns diálogos interessantes, e uma tentativa de crítica social, sob o pano de fundo da comédia. Entretanto, falta… falta desenvolvimento, coerência, profundidade emocional, ritmo equilibrado e o próprio tom narrativo. Eu irei explicar começando pelos personagens. Graça, é descrita como uma jovem inteligente, sagaz, que vive com a cara enfiada nos livros, dona de uma língua afiada, e que não se encaixa nos moldes exigidos pela sociedade – irei fazer um adendo, de que a mesma tem vinte e cinco anos, já começando a ser considerada velha para o casamento -, e eu amei isso sobre ela, o problema é que essa natureza única, raramente é explorada. Suas ações por diversas vezes não condizem com seus princípios, em outras beira o infantil, e é inconsequente. Ela sob e desce sem motivo algum, ou simplesmente segue morna e desesperada por algo que ela jurava não querer. Já Nicholas Sinclair, o duque, é um herói de guerra, traumatizado, extremamente reservado, carente, com o peso da culpa sobre os ombros… contudo, falta pequenas sutilezas que agregariam seu caráter a ponto de nos convencer de que ele é do bem, que suas ações são justificáveis. Sempre rígido, distante ao ponto de apatia, faz com que seu envolvimento com Graça, seja questionável, não soando natural, fazendo com que a química, seja apenas uma sugestão e não algo que estamos consegue sentir. Os personagens secundários são tão rasos e poucos explorados quanto os protagonistas, a própria grande família de Graça, não tem participação… só recebemos migalhas como estereótipos – a sonhadora, a teimosa, a gentil. E seu pai, o reverendo… este eu realmente quis que não tivesse tanta presença no enredo, mas infelizmente ele tem, e sério… ele me irritou tanto, porque ainda que sua presença seja um instrumento narrativo, o que dá os pequenos empurrões, ele é tão caricato, escrachado e todo errado, que não sei nem como me referir a ele, já mencionei que ele é reverendo? Misericórdia, eu sei que existem símbolos religiosos dignos de pena e que não merecem muito respeito, mas a leviandade com a qual ele foi construído me incomodou demais.

Abordando um pouco da narrativa, como já mencionei a autora tem uma escrita fluida, fácil, o livro é bem curto, mas ainda que encontremos migalhas de coisas boas, peca em toda a construção, seja dos personagens como mencionei acima, como pela escolha das viradas narrativas e plots, deixando momentos que deveriam ser marcantes passarem batidos, o texto em si demora a engrenar, o romance quando começa a parecer que vai ser desenvolvido se apressa e termina pouco satisfatório. O tom da história oscila o tempo todo entre comédia, drama e romance, deixando a sensação de que a autora queria ter escrito uma comédia romântica, leve e despretensiosa, mas que no meio do caminho quis se levar a sério, incluir uma densidade e carga emocional e acabou se perdendo e não conseguindo conciliar todas as camadas.

“E esse era o principal motivo de seu medo. Querendo ele ou não, tece de reconhecer que sua esposa vinha se tornando muito mais do que um simples meio para um fim.”

Enfim… Graça, não chega a ser só um desastre, mas infelizmente está longe de ser bom. É aquele tipo de livro que passa rápido, vez ou outra entrega alguma coisinha legal, mas que não marca, não se aprofunda em nenhum dos temas abordados, tenta ser muitas coisas e acaba não sendo nenhuma delas. Se você é um leitor do gênero e gosta de romances mais encorpados, com emoções reais, evolução e construção dos personagens, talvez ele não seja uma boa leitura. Mas, se por outro lado, você está buscando apenas por uma leitura leve, rápida, entretenimento, e está disposto a ignorar toda as fragilidades narrativas… talvez ele fique mais simpático aos teus olhos.

Dito tudo isto, preciso deixar claro, que tenho esperança, acho que a série ainda pode se redimir, vai que a autora tem umas cartas nas mangas, e que acabe por surpreender, vai que é no segundo… ou quem sabe no terceiro, que a encontra sua voz. Pretendo ler o segundo livro da série e ver se estou certa, ou não.

GRAÇA

Sinopse: Um duque obstinado, uma dama audaciosa e um casamento por conveniência. O objetivo do reverendo Augusto Shackleford é assegurar casamentos benéficos para cada uma de suas oito filhas. Essa não é uma tarefa simples, porque nem mesmo o fio de cabelo delas é muito comportado. Quem seria o nobre e abastado cavalheiro – insensato o bastante – para lidar com alguma delas? O mistério pode ser desafiador o suficiente para colocar à prova a lendária engenhosidade do reverendo. Aos vinte e cinco anos, Graça é a primogênita da família e, segundo a opinião do pai, não possui as características dignas de seu nome. Ela tem a língua solta e se contenta em permanecer solteira pelo resto da vida, mas a realidade muda quando surge um potencial pretendente no caminho. Nicholas Sinclair, gravemente ferido na Batalha de Trafalgar, retornou recentemente à cidade ao receber a notícia do falecimento repentino do pai. Apesar de ter estado distante da família por muitos anos, o novo duque está ciente de que seu dever é encontrar uma esposa e garantir um herdeiro o mais rápido possível. No entanto, assombrado por pesadelos incessantes devido às experiências terríveis no combate, Nicholas jamais teria prazer em se aventurar pelo mercado de casamentos da elite em busca de uma esposa. É nesse momento que Graça cruza seu caminho. Nem nos sonhos mais audaciosos, o reverendo Shackleford imaginou receber uma proposta do recém-resignado duque pela filha mais velha. Porém, a fama forjada de Graça como uma jovem de respeito e obediência não se sustentará por muito tempo. E o seu jeito autêntico demais pode ser capaz de ameaçar a reputação – e a paciência – de todos eles.

Ficha técnica:

Romance de época | Beverley Watts | As Irmãs Shacklford – Livro 1 | Faro Editorial | 2025 | 1ª Edição | 192 Páginas | Classificação Indicativa: 16+ | Cortesia | Minha avaliação: 2/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON.

Até a próxima! Bye.

LEIA TAMBÉM

Deixe um COmentário