RESENHA: A Casa dos Pesadelos – Marcos DeBrito | Faro Editorial

por Biia Rozante
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Faz dez anos que Tiago teve sua vida modificada. Ainda quando criança durante uma visita a casa de sua avó, ele garante ter se deparado com um monstro horrendo, algo além do que ele pode explicar e que as pessoas insistem em dizer que foi uma invenção de sua mente – coisa de criança. Porém, Tiago sabe o que viu, o que sentiu, e como isso tem ditado cada dia de sua vida. Assombrado por pesadelos, tem dificuldades em dormir, se tornou um jovem introspectivo, arredio e com dificuldades de relacionamentos interpessoais e ainda precisou se submeter a constantes sessões de terapia para obter ajuda com o trauma. Sua vida está longe de ser considerada normal.

Agora com dezesseis anos, Tiago está retornando para o lugar que tanto lhe causa arrepios. Ele jamais retornou a casa de sua avó desde aquele dia e por mais que tente aceitar que tudo pode ter sido forjado por sua mente, a constante sensação de perseguição e de que algo está errado não o deixa ter paz. Mas desta vez Tiago está disposto a enfrentar seus maiores medos, quer investigar, descobrir o que tanto lhe assombrou naquele dia e de uma vez por todas dar um fim a esse pesadelo. Porém, e se o monstro não for algo inventado por sua mente? E se por trás da imagem que o assombra se esconder algo ainda pior? Ou, e se o alvo não for mais ele e sim seu irmão mais novo?

“(…) Tenta encarar o escuro só como a falta de uma lâmpada acesa. É ligar uma luz para ver que os fantasmas que aparecem de noite não passam de uma sombra vinda da janela. Fica tranquilo que tem explicação pra todo tido de monstro que aparece. Até pro que mora debaixo de tua cama…”


A CADA DOS PESADELOSé o tipo de livro escrito para te dar uma rasteira. Você pode até criar teorias, desconfiar de detalhes que possam estar ligados a verdade, mas jamais irá imaginar o que de fato aconteceu. Em meio a um cenário doméstico, diria até que simples o autor criou toda uma cena de terror, um acontecimento que transformou a vida de um jovem e de toda sua família. Alguns traumas realmente são difíceis de superar, a mente possui mecanismo que maquinam a realidade, que tentam diminuir o impacto daquilo sobre quem o sofreu. Mas esquecer é algo impossível, por mais distorcido ou fora de foco que o ocorrido fique, ele continua ali, te assombrando. E é exatamente isso que acontece com o nosso protagonista.

“Aquela era a oportunidade de estar diante do algoz, mas o receio de enfrenta-lo não era facilmente superado. Mesmo um adulto, quando confrontado por seus pavores primários, ajoelha-se perante a fobia.”


Marcos DeBrito dispensa comentários, o cara é um gênio com as palavras. A maneira como ele consegue nos enredar e induzir por vários caminhos ao mesmo tempo é surreal. Em A CASA DOS PESADELOS ousou, com uma narrativa cheia de metáforas e simbolismos abordou um assunto tabu e que está mais presente no dia a dia do que imaginamos.  Os verdadeiros monstros são reais, estão fora das páginas de um livro e vivem mais perto do que gostaríamos. A realidade pode ser cruel, dolorosa e um choque.

“Tiago permaneceu sentado no colchão, mirando o breu a sua frente. O aposento sombrio o arrostava a distância, no empenho de lhe abalar a valentia, mas ele estava comprometido. Disposto a não fraquejar, respirou fundo e abraçou a missão de sentinela noturna.”


Não posso entrar em detalhes pois tentar explicar esta obra é como dar um grande spoiler. Mas posso garantir a vocês, que ela é muito mais profunda e necessária do que aparenta. Mergulhe no cotidiano de uma família interiorana e se tiver coragem, desvende seus mais perversos segredos.

O livro pode ter menos de 150 páginas, mas foi o suficiente para arrepiar, causar aquela sensação de desconforto. Senti como se estivesse assistindo a um filme e que a qualquer momento iria me virar e dar de cara com um monstro atrás de mim. Não que ele seja um terror, para ser honesta o julgo mais como um suspense, é que a habilidade de escrita do Marcos faz isso conosco, nos deixa ansiosos e com o grito preso na garganta.


Confesso que o final me deixou com um gostinho de quero mais. Sou o tipo de leitora que gosta da resolução total, mas compreendo que nesse caso só daria margem para mais um debate que acabaria saindo fora do foco da obra. É importante ressaltar que isso não minimiza a grandiosidade da obra e nem a torna ruim. É mais uma questão de gosto pessoal mesmo. De modo geral, amei o livro e ele com certeza é um tapa da cara da sociedade que ainda gosta de se fazer de cega e por diversas vezes é indiferente a realidade de milhares de jovens.

Antes de finalizar essa resenha, preciso enaltecer o trabalho lindo da FARO EDITORIAL, que edição maravilhosa e caprichada. Vocês arrasam!


A CASA DOS PESADELOS – Marcos DeBrito

Sinopse: Dez anos depois de estar cara a cara com aquela assombração, Tiago finalmente concorda em voltar à mesma casa para visitar sua avó. Agora adolescente, ele pretende provar para si mesmo, que a terrível imagem que o aterrorizara nas madrugadas por tanto tempo, não passava de uma criação tenebrosa da infância. Mas, ao chegar no casarão, o jovem se depara com o misterioso quarto de seu falecido avô, agora mantido fechado, e tratado como espaço proibido. As restrições com relação ao aposento, as sensações e barulhos no meio da noite logo alimentam nele a suspeita de que algo terrível habita o local. Tomado por uma estranha coragem e desejo de ver-se finalmente livre do medo, tudo que o rapaz deseja é descobrir o que há por trás daquela porta. Então, o pesadelo toma novo impulso quando a figura sombria da infância mostra-se real novamente… mas, desta vez, ela quer atacar o seu irmão mais novo. Determinado a impedir que o caçula passe por terror semelhante, Tiago, mesmo apavorado, decide enfrentar a criatura. E o que descobre expõe terríveis segredos do passado que ninguém poderia imaginar.

Ficha técnica:
Suspense, Terror | Faro Editorial | 2018 | 1º Edição | 144 páginas | Cortesia | Classificação: 4/5 | SKOOB  – AMAZON

Até a próxima! Bye.

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Lili Aragão 20 de junho de 2018 - 10:17

Oi Bia, terror não é muito a minha, mas achei bem bacana que o autor consegue fazer o leitor se conectar a ponto de olhar sobre o ombro pra ter certeza haha… A resenha tá ótima e tenho certeza que quem curte o gênero vai gostar dessa leitura 😉

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Biia Rozante | Atitude Literária 20 de junho de 2018 - 11:20

Oooiii Lili. Eu podia ouvir a musiquinha do suspense, de quando algo ruim está para acontecer kkkkkkkkkkkkkkkkk

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