RESENHA: Entre Irmãs – Frances de Pontes Peebles | Editora Arqueiro

por Biia Rozante
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Demorei para iniciar a leitura de ENTRE IRMÃS mesmo sendo um livro ao qual estava super ansiosa para ler. Ainda que eu seja uma leitora ávida me intimidei por seu tamanho, é aquela velha história de se ter muitos livros para ler e não querer ficar preso a apenas um por muito tempo – quanta ignorância de minha parte -, até porque mesmo contendo mais de quinhentas páginas o li em um final de semana e a leitura foi surpreendente.

O cenário é o Brasil da década de 20 e 30, mais precisamente o nordeste brasileiro, a transição da republica velha até a ascensão de Getulio Vargas. Duas irmãs que só tem uma a outra. Que após a morte de seus pais foram viver com uma tia. Ali aprenderam sobre o ofício de corte e costura, religião e economia. Emília é uma jovem de beleza encantadora, do tipo sonhadora e romântica, que sempre nutriu o desejo de se casar com o amor de sua vida e se mudar para a capital. E Luzia é a menina desengonçada, atrapalhada, religiosa e aventureira que após a queda de uma arvore ainda na infância ficou com um braço torto, ganhado o apelido de vitrola, vista por muitos como inútil e incapaz de ser “mulher de alguém”. Jovens que pouco possuem em comum, a não ser o talento pela costura e o amor que nutrem uma pela outra. Que terão seus caminhos separados, mas que jamais se esquecerão.

“Lá no alto o céu era uma imensidão escura. Luzia se sentiu pequena diante dele, e teve medo. Mas se lembrou daqueles passarinhos que libertava, tanto tempo atrás. Lembrou que, depois que ela abria a portinhola, eles sempre ficavam parados, hesitando, na beirada da gaiola. E, então, saíam voando.”


Do outro lado temos cangaceiros. Não qualquer um, o mais cruel e temido de todos, Carcará e seu bando, que por onde passam espalham medo e devastação, que ao pousar os olhos sobre Luzia se encanta e não pensa duas vezes em levá-la junto a eles – escolha que ela toma de livre e espontânea vontade, ela se junta ao bando porque quer. Emília por sua vez fica para trás e precisa lidar com a morte da tia, uma sociedade crítica e injusta, aceitando assim um casamento sem muito amor e uma partida para a cidade grande – que mesmo sendo o que ela tanto sonhava -, se revela um grande arrependimento depois. Vidas separadas pelas escolhas e o destino, onde uma se torna expectadora da outra e seguem nutrindo o carinho que sentem e torcida para que a outra esteja bem e feliz. Duas realidades completamente diferentes, onde uma tenta ser aceita e se ascender socialmente, enquanto que a outra precisa se endurecer e sobreviver em meio a um sertão cruel, imprevisível e cangaceiros. É como seguir lendo duas histórias distintas, mas que ainda assim se paralela.

Duas jovens fortes, determinadas, que muito irão sofrer e precisar enfrentar. Cada uma a seu modo, mas não por isso menos impactante e doloroso. Emília exala simplicidade, sonhos e vontade de conquistar algo que a leve além, em alguns momentos a enxerguei como a mais frágil e me enganei, porque ela se revela muito mais determinada e decidida do que eu esperava. Já Luzia, essa me deixou arrepiada, mesmo tendo um braço torto ela não se limita, muito pelo contrário, vai à luta, enfrenta, afronta, sofre muito, sobrevive a uma seca assustadora e… Só lendo para sentir.

“(…) Certas coisas, porém, nem valia a pena consertar.”


ENTRE IRMÃS é mergulhar em conflitos familiares, que fazem nossas emoções duelarem, é conhecer uma realidade que mesmo sendo tão real e presente até hoje por diversas vezes fechamos os olhos e só ignoramos. O fato é que é difícil falar desta obra sem mencionar toda sua riqueza cultural, a retratação do cangaço. A autora não poupou esforços para nos situar na época e misturou ficção com fatos reais, portanto é um livro rico, que nos ajuda a compreender e conhecer um pouquinho mais sobre a nossa própria história. Preciso mencionar também o machismo tão presente, ler uma obra que retrate isso só reforça o quanto já conquistamos, o quanto essa luta é importante e o longo caminho que ainda temos a percorrer. Além claro de falar de amor, amor entre irmãs que mesmo longe uma da outra jamais se esquecem, seguem torcendo, e se questionando como a outra está. Sobre se encontrar, descobrir seu lugar e se firmar ali. Sobre as muitas reviravoltas, dificuldades e obstáculos que sempre encontraremos no caminho, independente das escolhas que fizermos.

Eu gostei muito da leitura, me surpreendeu absurdamente, mas serei honesta e direi que alguns excessos nas descrições e detalhes me incomodaram por tornar a leitura um pouco cansativa. Falando sobre famílias, direitos das mulheres, preconceito, violência exagerada, cangaço, força, política e muito mais… ENTRE IRMÃS é uma obra envolvente, um misto de emoções, intensa, densa, um retrato da sociedade da época, de atos e ações que refletem até hoje.

O enredo está muito bem construído e estruturado, é notória a quantidade de pesquisa que a autora fez. Os personagens são bem desenvolvidos e apesar do foco ser as irmãs, todos os demais também conseguem passar sua mensagem e ter certa notoriedade. Os cenários foram muito bem explorados e essa facilidade da autora em descrever o lugar e os fatos nos permite se sentir inseridos na época, vivendo aquelas emoções. Acredito que a autora tenha usado de licenças poéticas para algumas cenas o que só enriqueceu ainda mais seu enredo. É uma obra repleta de referencias históricas, cheia de reflexões e muitas emoções. Vale muito a pena a leitura.

Curiosidades:

* A obra foi adaptada para o cinema e vou deixar o trailer aqui caso você ainda não tenho visto. Ela também se transformou em uma minissérie e foi exibida no início do mês – janeiro -, na rede globo. (Agora poderei conferir os dois).



ENTRE IRMÃS – Frances de Pontes Peebles

Leia um trecho da obra: AQUI

Sinopse: Nos anos 1920, as órfãs Emília e Luzia são as melhores costureiras de Taquaritinga do Norte, uma pequena cidade de Pernambuco. Fora isso, não podiam ser mais diferentes. Morena e bonita, Emília é uma sonhadora que quer escapar da vida no interior e ter um casamento honrado. Já Luzia, depois de um acidente na infância que a deixou com o braço deformado, passou a ser tratada pelos vizinhos como uma mulher que não serve para se casar e, portanto, inútil. Um dia, chega a Taquaritinga um bando de cangaceiros liderados por Carcará, um homem brutal que, como a ave da caatinga, arranca os olhos de suas presas. Impressionado com a franqueza e a inteligência de Luzia, ele a leva para ser a costureira de seu bando. Após perder a irmã, a pessoa mais importante de sua vida, Emília se casa e vai para o Recife. Ali, em meio à revolução que leva Getúlio Vargas ao poder, ela descobre que Luzia ainda está viva e é agora uma das líderes do bando de Carcará. Sem saber em que Luzia se transformou após tantos anos vagando por aquela terra escaldante e tão impiedosa quanto os cangaceiros, Emília precisa aprender algo que nunca lhe foi ensinado nas aulas de costura: como alinhavar o fio capaz de uni-las novamente.

Ficha técnica:
Ficção, Romance | Editora Arqueiro | 2017 | 576 Páginas | Cortesia | Classificação: 4/5 | SKOOB
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Até a próxima! Bye.

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