RESENHA: A Garota do Lago – Charlie Donlea | Faro Editorial

por Biia Rozante
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“O vício é a marca de toda história de amor baseada na obsessão. Tudo começa quando o objeto de sua adoração lhe dá uma dose generosa alucinante de algo que você nunca ousou admitir que queria – um explosivo coquetel emocional, talvez, feito de amor estrondoso e louca excitação. Logo você começa a precisar dessa atenção intensa com a obsessão faminta de qualquer viciado. Quando a droga é retirada, você imediatamente adoece, louco e em crise de abstinência (sem falar no ressentimento para com o traficante que incentivou você a adquirir seu vício, mas que agora se recusa a descolar o bagulho bom – apesar de você saber que ele tem algum escondido em algum lugar, caramba, porque ele antes lhe dava de graça… “ – Elizabeth Gilbert

Ainda me fascino com o desafio, com a descoberta de novas histórias, enredos que me levam para além de suas páginas, que contaminam minha mente, que me deixem com aquela sensação de satisfação, de euforia, por ter arriscado e me surpreendido. Para 2017 me propus a conhecer novos autores, novos gêneros literários, ler obras as quais normalmente não dava chance e preciso confessar o quanto essa experiência tem sido enriquecedora e gratificante. Em especial por essa última leitura – A GAROTA DO LAGO, que é simplesmente… UAU.

Um assassinato brutal abalou a pequena cidade de Summit Lake. A estudante de direito Becca foi violentada e estrangulada dentro de sua própria casa, um fato que chocou a todos os moradores, principalmente por se tratar da filha de um juiz renomado e por ser uma jovem gentil, esforçada e querida por todos. E é exatamente neste ponto em que conhecemos Becca, em seus últimos minutos de vida, durante a agressão e sua morte. E você precisa saber, não é fácil acompanhar, na verdade é agonizante e seu desespero se torna o nosso próprio. E o que resta é a vontade de descobrir o que aconteceu, quem cometeu tamanha crueldade e por quê?

Kelsey está afastada do seu emprego, não por vontade própria, mas por necessidade. Algo aconteceu e ela precisa juntar os pedaços e ser capaz de encarar o mundo fora de suas paredes outra vez. Uma repórter investigativa de sucesso, que já escreveu inúmeros textos e até mesmo um livro. Seu chefe, um homem por quem detém muito carinho, quase como se fosse seu próprio pai tenta protege-la de todas as formas e quando surge um caso em especial, sente que é o momento certo para que ela volte ao trabalho. E é assim que Kelsey conhece o caso de Becca. Designada para cobrir as investigações, Kelsey está determinada a descobrir quem matou Becca, ainda que não exista nenhuma pista, ou até mesmo um único suspeito. E quanto mais a verdade se aproxima, mais ligada a vítima ela se sente e o que era para ser apenas mais um trabalho, se transforma em um processo de cura e libertação.

“Era esta a cara do início do trabalho de campo: conversas com muitas pessoas e obter diversos caminhos de descoberta. Algumas acabariam em becos sem saída, enquanto outras levariam a mais informações, que exigiriam novas investigações. No entanto, se surgissem bastantes caminhos, Kelsey sabia que um deles levaria a algum lugar importante.”


Mesclando passado e presente, Charlie nos leva por um verdadeiro emaranhado, onde nenhuma peça parece se encaixar. A medida que conhecemos Becca e a pessoa que ela era, mais difícil se torna aceitar o que lhe aconteceu – ainda que o narrador tente em alguns momentos “justificar”, ou “atribuir” culpa a própria vítima -, ela é inteligente, esforçada, nutre sonhos, desejos de uma jovem sonhadora que está apenas começando a viver, entretanto ela também oculta alguns segredos e seu comportamento não é sempre o mais exemplar – neste ponto me questionei sobre sua inocência no sentido literal da palavra, na falta de malícia da situação, ou se ela de fato era consciente e explorava alguns pontos para benefício próprio. O que em nada justifica a brutalidade de seu assassinato. E ao mesmo tempo conhecemos Kelsey e todo seu esforço em buscar respostas, principalmente porque ao que tudo indica, tem muita gente tentando deixá-las bem escondidas. Existe resistência por parte da polícia, complicações pela família e muitas teorias a serem comprovadas, uma verdadeira teia de aranha. Se não existe um suspeito, como essa jovem acabou morta? Por onde começar a procurar? Qual direção é a melhor seguir?

“É mais que uma pessoa obcecada. É o que se denomina pessoa insociável organizada. É o padrão de um assassino. Um tipo específico de assassino. Ele é inteligente…”


Serei totalmente honesta. O livro não é perfeito, os personagens poderiam ter sido melhores explorados, o autor poderia ter cavado mais fundo, se aprofundando, alguns pontos são questionáveis e outros ficam apenas subentendidos. A sensação que tive em alguns momentos é que o autor apenas se esqueceu, ou optou por deixar de lado realmente, como se aquilo não precisasse ser respondido, ou até mesmo que tomou o caminho mais fácil. Em contrapartida, seria totalmente hipócrita da minha parte não assumir o quanto fui surpreendida. Toda a trama em si foi uma caixinha de surpresas, os segredos revelados me chocaram e o final me deixou arrepiada e muito triste. Chorei sim, pois meu coração ansiava por um desfecho diferente, mesmo tendo consciência do que a trama em si tratava. Lamentei a vida roubada, as alegrias perdidas e o futuro que Becca jamais irá conhecer e mais uma vez tive a certeza de que ficção e realidade andam lado a lado. Um livro que poderia ser um caso da vida real.

“(…) cada um se cura a sua própria maneira e em seu próprio ritmo. Alguns refletem mais do que os outros a respeito das coisas que enfrentam na vida, e avaliam esses acontecimentos de maneira distinta.”


A GAROTA DO LAGO me arrastou para dentro de si. Me senti a própria jornalista investigativa buscando por pistas, ler nas entrelinhas, tentando adivinhar o que o autor estava ocultando – até pensei em ler a última página, desculpa sou curiosa -, mas nada parecia suficiente, me tornei uma viciada e cada página me deixava ainda mais inquieta, precisava desesperadamente de respostas e elas vão chegando em doses homeopáticas – que tortura. E enfim me dei conta sobre o que o autor realmente quis falar: Sobre as expectativas que depositamos nos outros. Sobre o modo como tendemos a enxergar nas pessoas aquilo que desejamos e não somente a realidade crua. Sobre a fragilidade da mente, da vida, da força dos sentimentos, da obsessão. É uma leitura marcante, dolorosa, crua e que mesmo contendo falhas ganhou nota máxima, pela construção do enredo, pelos cenários ricos em detalhes e pelas emoções despertadas. Eu queria poder falar mais e mais, entrar em detalhes, expor cada cena que ficou ecoando em minha mente, mas isso seria spoilerdemais, preciso me conter. Por isso se tiver a oportunidade, leia.

“(…) o infortúnio de um significa a realização do sonho de outro.”


Preciso deixar meu parabéns e agradecimento a FARO EDITORIAL pela oportunidade de conhecer a obra. Capa coerente com a trama, diagramação simples e linda. Um trabalho muito bem feito.

Ansiosa para conhecer mais obras do autor. Charlie me conquistou com sua escrita fluida, envolvente e viciante.

Procurando uma leitura para sair da sua zona de conforto? Um livro que irá te arrepiar? Acredite, A GAROTA DO LAGO é uma ótima opção.


A GAROTA DO LAGO – Charlie Donlea

Sinopse: …ALGUNS LUGARES PARECEM BELOS DEMAIS PARA SEREM TOCADOS PELO HORROR… Summit Lake, uma pequena cidade entre montanhas, é esse tipo de lugar, bucólico e com encantadoras casas dispostas à beira de um longo trecho de água intocada. Atraída instintivamente pela notícia, a repórter Kelsey Castle vai até a cidade para investigar o caso. Duas semanas atrás, a estudante de direito Becca Eckersley foi brutalmente assassinada em uma dessas casas. Filha de um poderoso advogado, Becca estava no auge de sua vida. Era trabalhadora, realizada na vida pessoal e tinha um futuro promissor. Para grande parte dos colegas, era a pessoa mais gentil que conheciam. Agora, enquanto os habitantes, chocados, reúnem-se para compartilhar suas suspeitas, a polícia não possui nenhuma pista relevante. Atraída instintivamente pela notícia, a repórter Kelsey Castle vai até a cidade para investigar o caso. … E LOGO SE ESTABELECE UMA CONEXÃO ÍNTIMA QUANDO UM VIVO CAMINHA NAS MESMAS PEGADAS DOS MORTOS… A selvageria do crime e os esforços para manter o caso em silêncio sugerem mais que um ataque aleatório cometido por um estranho. Quanto mais se aprofunda nos detalhes e pistas, apesar dos avisos de perigo, mais Kelsey se sente ligada à garota morta. E enquanto descobre sobre as amizades de Becca, sua vida amorosa e os segredos que ela guardava, a repórter fica cada vez mais convencida de que a verdade sobre o que aconteceu com Becca pode ser a chave para superar as marcas sombrias de seu próprio passado…

Ficha técnica:
Suspense, mistério| Faro Editorial | 2017 | 1º Edição | 296 Páginas | Cortesia | Classificação: 5/5 | SKOOB
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Até a próxima! Bye.

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2 comentários

Unknown 20 de janeiro de 2021 - 20:28

Eu comprei o livro recentemente. E assim como você, embarquei nessa jornada incrível. Fiquei muito intrigada e bastante curiosa, pois o autor mistura o passado com o presente e é tudo questão de colocar as peças no lugar certo. Confeço que desde o início eu já suspeitava dessa pessoa e quando eu fui mergulhando mais no mundo da becca eu fui desconfiando mais e mais… até que o livro deu uma reviravolta e eu fiquei tipo tá não é ele então? Mais eu tinha tanta certeza. Até que boooommm, o final vem e me surpreende de um jeito que fiquei sem palavras. A noite do crime, me deixou sem palavras e com o mesmo sentimento que ela, eu chorei muito Porque de todos, eu não esperava isso daquela pessoa, pois eu amava essa pessoa e sentia até certo ponto pena dela. Então o autor veio e trás além dessas duas narrações, mais duas narrações surpreendentes e que explicam um pouco do que ocorreu. Só sei dizer que eu chorei bastante, terminei o livro ontem e ainda fico refletindo ele na minha cabeça, tipo na parte da morte quando eu falava pra ela (como se ela me escutasse kkkk), não fala isso pra essa pessoa, você vai acabar morrendo se contar. E eu acertei, infelizmente. Ameiii o livro, ainda tentando me recuperar do baque mais com certeza foi um dos melhores que eu já li😍😍😍😍😍

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Biia Rozante | Atitude Literária 20 de janeiro de 2021 - 22:06

Oiiiiii. Simmmmm, seu relato é o mais cru e verdadeiro que já li. É exatamente isso, nossas emoções ficam a flor da pela, não dá para explicar, é algo que sentimos muito forte. A história nos envolve, os personagens cativam, intrigam, e terminamos chorando, angustiados, e é uma explosão de sentimentos. Charlie é incrível, e posso te falar… só melhora, os livros do autor vão amadurecendo e evoluindo a cada nova publicação. É maravilhosoooooooooo.

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