Partidas e Chegadas – Trish Doller | Faro Editorial

por Biia Rozante
2 comentários

ALERTA DE GATILHOS! O livro aborda temas como suicídio, depressão e luto, caso esses temas sejam sensíveis a você leitor, tenha cuidado.

Anna e seu noivo Ben, tinham muitos planos, ao longo de muito tempo programaram a viagem dos sonhos pelas Bahamas, saindo da Flórida, explorando várias ilhas caribenhas… Entretanto a morte trágica de Ben, deixou Anna sem chão, sem rumo e profundamente abalada. Perder o homem que amava tão profundamente, foi como perder um pedaço de si, e isso a deixou em meio a uma escuridão. Dez meses e seis dias se passaram, e Anna está cansada de afundar em sua dor, ela não consegue mais lidar com a pressão da família para que volte a sair, que volte a levar uma vida normal, que ela supere a perda. E como se lidar com a sua família já não fosse complicado o suficiente, ela ainda tem a sogra fazendo de tudo para dificultar sua recuperação. Reunindo suas parcas forças, Anna toma uma decisão impulsiva, ela vai seguir os planos sozinhas, ela vai pegar o barco, a carta náutica e fazer a viagem dos sonhos, sozinha.

Ignorando os temores de sua família e amigos, munida de determinação, Anna embarca, carregando com si um turbilhão de memórias tristes, lembranças que parece nunca ser capaz de superar. A viagem é desafiadora, o trajeto a desafia a cada instante, e o que antes parecia tão certo, começa a deixá-la com dúvidas. Seguir sozinha pode ser perigoso demais e não demora para que ela se dê conta do quanto, como desistir não é uma opção, o melhor caminho é reconhecer que precisa de ajuda, é necessário contratar alguém.

“(…) O eterno não saber está alojado em meu coração como uma pedra, uma dor chata e constante, que transborda em momentos como este, quando imagino como teria sido nosso futuro.”

Keane, um marinheiro profissional, passou por muitas adversidades em sua vida, momentos difíceis e dolorosos que o estavam consumindo, a ponto de fazê-lo vagar por vários portos sem um destino certo. Até que seu caminho cruza com o de Anna, e juntos eles embarcam em um veleiro, rumo as águas turbulentas do Caribe. Ele quer voltar a navegar, ser parte de uma tripulação, fazer o que sempre amou, o que ele sente que nasceu para ser e fazer. E Anna ainda que de maneira modesta vai devolver isso a ele. Enquanto navegam e desvendam as águas, e ilhas paradisíacas, eles também irão desenvolver uma amizade, que irá revelar feridas, dores, medos, vulnerabilidades, muita vontade de se reencontrar, viver e ser feliz.

PARTIDAS E CHEGADAS é uma leitura sensível e emocionante sobre o luto, sobre suas fases, como se lidar com ele e quando é chegado o tempo de deixá-lo. E fica a reflexão, de que o luto é vivido de maneira diferente para cada pessoa, não existe um tempo determinado para se estar em luto, e muito menos um comportamento “certo” sobre ele. Seguir em frente é muito difícil, e cabe somente a quem está enfrentando o momento determinar quando se está pronto. Anna sofre um grande impacto quando encontra o grande amor da sua vida, a pessoa com quem planejava viver todos os seus dias… morto. A sensação de que poderia ter feito mais, de ter lido os sinais, de tentar ter evitado o acontecido é algo persistente em sua mente, a dor a consome, o que antes era certo, passa a ser uma grande incógnita, todos os sonhos, planos a dois, morrem junto com Ben. Dez meses se passam, sua família e amigos querem que ela volte a ter uma rotina “normal”, que ela volte a sair, a se divertir… E é justamente quando ela CANSA de ser COBRADA, pressionada, sobre seguir em frente, sobre recomeçar, que ela toma a decisão de fazer a viajem de barco, que Ben, sonhou, que planejou detalhadamente. O problema é que seu conhecimento sobre barcos é limitado, ela nunca viajou sozinha, mas munida de muita determinação e coragem, ela vai…

“(…) E somos apenas humanos, colidindo com as muralhas escuras de nossas vidas, em busca de faísca que nos trará a luz. Esperando que não estraguemos tudo.”

Quando se dá conta do quanto as águas podem ser turbulentas, dos riscos que corre viajando sozinha, Anna pede ajuda, ela vai atrás de alguém com mais experiencia, e é assim que Keane entra em sua vida, um jovem com cicatrizes físicas e emocionais, que também está em busca do seu próprio recomeço. Ambos encontram um no outro, muita força, alguém com quem compartilhar a viajem, as dores, as preocupações, a vontade de se encontrar e de recomeçar a partir de traumas, a amizade entre eles é natural, é uma construção diária e muito bonita. E o romance é apenas uma consequência de tudo que enfrentam lado a lado, e é muito cativante, faz com que nós leitores nos apaixonemos junto com eles. Mas, isso não significa que será tudo perfeito, porque ambos estão em sua própria jornada, com planos e sonhos, que podem não caber ambos como casal.

Eu amei, que leitura delicada, respeitosa e reflexiva. A narrativa da autora é leve, ainda que ela aborde assuntos densos, é muito fluida e rápida. Anna e Keane, sempre terão um espaço no meu coração e com certeza me ensinaram muito ao longo de cada página. Eu amei a riqueza de detalhes e a preocupação da autora na ambientação, os cenários são bem explorados, descritos de forma a nos fazer sentir a bordo junto com nossos protagonistas. Outro ponto que também quero mencionar foi o amadurecimento da Anna como uma mulher que está recomeçando, buscando uma segunda chance da vida, ela é determinada, inteligente, destemida e mesmo que tenha medos, ela os encara com muita vontade de romper essa barreira. Keane é incrível, é um personagem de muita presença, que também enfrentou um momento que mudou a vida dele, que está vagando de porto em porto sem saber ao certo para onde ir, até que ele se depara com a Anna, e o mais interessante deste encontro não é o romance que desconfiamos que irá surgir em algum momento, e sim o que eles compartilham, a forma como fazem com que o outro desabroche, volte a confiar em si e tenha a força necessária para sair do local escuro em que se encontram, sem culpa, entendendo que está tudo bem encontrar o equilíbrio da saudade, das lembranças e memórias felizes e apenas se permitir viver.

“(…) Mas estou começando a entender que a tristeza e a felicidade podem ficar lado a lado dentro de um coração. E que esse coração pode continuar batendo.”

Uma leitura capaz de conquistar a todos, mas como avisei no começo desta resenha, caso você esteja enfrentando um momento de perda, de vulnerabilidade, de fragilidade emocional, cuidado, o livro pode te gerar gatilhos.

A Faro Editorial fica sempre aquele agradecimento e carinho, por edições tão lindas e que tornam a experiência de leitura ainda melhor.

FICHA TÉCNICA:

PARTIDAS E CHEGADAS – Trish Doller

Sinopse: Há pessoas que surgem em nossas vidas quando mais precisamos… outras ficam para sempre em nosso coração. Por meses, Anna e o noivo programaram a viagem de suas vidas… mas a morte trágica dele interrompe todos os sonhos. Anna se sente perdida por um bom tempo, até que reúne forças para recomeçar. E sua primeira decisão é seguir com os planos daquela viagem, sozinha. Mesmo com as memórias tristes e um trajeto desafiador, Anna embarca em um veleiro numa aventura quase perigosa, encarando os próprios receios e ignorando os temores de seus amigos. Depois de uma noite de navegação arriscada, ela percebe que não vai conseguir realizar a viagem sem ajuda. Então, contrata Keane, um marinheiro profissional, que passou por momentos difíceis e estava apenas seguindo com sua vida. À medida que se distanciam do continente, ambos têm a oportunidade de se abrir, de lidar com o passado… Talvez fechar a porta que os manteve paralisados permita que tracem uma nova rota ― uma nova chance.

Drama, Romance | Trish Doller | Faro Editorial | 2021 | 1º Edição | 256 Páginas | Tradução: Isabella Sarkis | Cortesia | Classificação: 4,5/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON

Até a próxima! Bye.

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2 comentários

Laiara 10 de março de 2022 - 08:24

Parece ser uma leitura incrível… Do tipo que a gente sai transformada pela experiência!
Fiquei interessada! 🤍

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Biia Rozante 10 de março de 2022 - 16:57

Oiiii. Eu sou suspeita, porque realmente eu amei. É sensível é reflexiva. Eu super recomendo. Beijoooooooos

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