” Às vezes, quando fecho os olhos, juro que ainda sinto o gosto do pó…”
Se existe uma certeza na minha vida literária, é que a autora Kristin Hannah, sempre irá destroçar o meu coração com suas letras. Não existe nada que escape a sensibilidade e riqueza de sua escrita, assim como ao turbilhão de emoções que nos assola ao longo da leitura de seus enredos. Ela usa o pano de fundo histórico com muita delicadeza e nos deixa reflexivos e pensativos por dias e dias, ou melhor, para o resto de nossa vida, ao ponto de olhar para as capas e recordar tudo que sentimos lendo. Não tem como ler e esquecer, é o tipo de narrativa que entra no nosso coração e de lá não sai mais. Apaixonante, verossímil, cru e intenso, é assim que te apresento OS QUATRO VENTOS.
Texas, 1921. Os agricultores comemoram e vivem o pós-guerra com muita alegria, o clima os favorece e suas colheitas tem sido abundantes e suas mesas fartas. O sentimento é de que todo trabalho duro, enfim está sendo recompensado. Elsa Wolcott, é de uma família bem sucedida, mas mesmo o nome e prestigio de sua família, não lhe asseguraram um bom casamento, aos vinte e cinco anos, é tida como uma solteirona, pouco atraente e até tratada como incapaz por sua família, que vive pela aparência e status, que acabam por mantê-la aprisionada em sua própria casa, oprimida e humilhada. A desculpa para tais atos, é ela ter sofrido de febre reumática quando tinha catorze anos. No auge de sua inocência, autopiedade e privações que sempre foi submetida, Elsa só quer viver, ter um dia de liberdade, ao qual ela pode ser quem sempre sonhou, uma mulher admirada, desejada, livre das sequelas de sua doença e é aí que ela se depara com Rafe Martinelli… caindo em uma “armadilha” de seu próprio coração e vontades, mudando para sempre o rumo de sua vida.
“Aparentemente, era impossível deixar de amar algumas pessoas, ou de precisar do amor delas, mesmo quando havia razões para isso.”
Treze anos se passam. Elsa agora é mãe, o mundo está completamente diferente, milhões estão desempregados, e mais ficam a cada dia, devido a Grande Depressão – período de forte recessão econômica, marcada por desemprego em massa, falência de diversas empresas do setor industrial e agrícola, e pobreza -, e também a seca que tem devastado as grandes planícies, há quatro anos não cai uma única gota de chuva, o chão está tão seco que a terra racha, animais morrem, plantações inteiras são dizimadas, provocando infinitas tempestades de areia, que por onde passam deixam destruição e problemas de saúde. Parece o fim, não somente para a fazenda na qual mora, mas também para o seu casamento que parece tão seco quanto o clima. Batalhar pela sua sobrevivência é tudo que fazem, acordar, trabalhar sob um sol escaldante durante o dia todo, ter um sono agitado e de pouco descanso debaixo de um teto que caí poeira e de uma cama que mesmo lavando os lenções parece cheia terra, para acordar novamente e ver o ciclo se repetindo.
Elsa ama seu lar, ama sua família, aprendeu a trabalhar e viver da terra que se tornou tão sua quanto da família que a acolheu. Só que diante de acontecimentos inesperados e duros, ela terá que fazer escolhas as quais jamais se quer considerou até então: Permanecer e lutar pela terra que aprendeu a amar, ver seu filho sofrer por uma doença que o clima seco só faz piorar, ou deixar tudo para trás e ir de encontro a promessa de uma vida melhor no oeste, um lugar completamente desconhecido, mas que parece oferecer esperança e dias melhores. Independentemente da escolha que ela fizer, algo será sacrificado e o final pode não ser o mais doce.
“(…) Foi o sonho que a trouxe aqui, ela passou isso para mim. Mas era tudo mentira. Ao menos para pessoas como nós. Gente que veio do lugar errado, ou tem a pele da cor errada, ou fala a língua errada, ou reza para o Deus errado…”
OS QUATRO VENTOS é uma história dolorosamente linda de amor, esperança, força, sobrevivência e sacrifício. Ler o prólogo, já é suficiente para que você abrace essa história e não queria mais largar, enquanto não chegar ao fim, e chegar ao fim é… tão intenso e forte, que mesmo após dias a história ainda está com você. Elsa é a nossa protagonista e é a história dela que iremos acompanhar, de inicio somos apresentados a uma jovem ainda sonhadora, privada de muitas coisas, principalmente de amor familiar, que só conheceu a opressão e o julgamento. Mas todas as adversidades que irá passar irão coloca-la em uma nova realidade, que ela abraça e se esforça para ser feliz. E então encontramos uma Elsa agora mulher, mais madura, mãe, que luta bravamente pela sua família, mas que ainda carrega as marcas de um passado difícil, marcas essas que ela camufla, pois a realidade na qual está inserida no momento é ainda mais cruel; Pobreza, fome, sede, uma seca que parece não ter fim, a terra que aprendeu a amar a traiu, a seca consome tudo e o seu casamento ruiu. Resta a ela tomar uma complicada decisão, e para onde ela irá a partir disto, quais as consequências, o que ela vai sacrificar no processo, ainda é possível ter esperança?
Os personagens secundários são incríveis. Vou destacar a Loreda, que é a filha adolescente da Elsa, Tony e Rose que são os sogros. UAU… a presença deles com certeza tornam essa história ainda mais intensa e reflexiva.
Eu busco transbordar aqui com as minhas palavras, tudo aquilo que senti. Mais sei que será impossível, não tem como fazer jus a grandiosidade da obra. Eu só sei SENTIR. Enquanto escrevo lágrimas me escapam e volto a reviver todas as emoções que me reviraram ao longo da leitura. OS QUATRO VENTOS, destroçou meu coração, é uma leitura arrebatadora que fala da força da mulher que encontra a sua voz, de como ela luta pelos seus e pelo que acredita. É sobre ter esperança e lutar, buscar sempre oferecer o seu melhor, ainda que não seja isso o que você está recebendo em troca. É sobre olhar para o hoje e ser capaz de enxergar o quão próximos estamos de reviver uma parte da história do passado e de como essa realidade pode ser impiedosa e massacrante. É uma história forte, intensa, dolorosa e linda. E mesmo que eu tente te preparar para o que você irá encontrar nestas páginas, eu sei que não tem como.
“Amor é o que permanece quanto tudo o mais acabou. É o que eu deveria ter dito aos meus filhos quando saímos do Texas. É o que eu vou dizer a eles esta noite. Acho que eles ainda não vão entender. Como poderiam? Eu mesma estou com 40 anos e só agora entendi essa verdade fundamental.”
Kristin Hannah é mestre em criar história com pano de fundo histórico, com protagonistas mulheres fortes, que não fogem da luta. Seus enredos são marcados por determinação, força, esperança, relações familiares e recomeços. Seus livros são reflexivos, e permanecem com o leitor mesmo após o fim. Eu amo absolutamente tudo que essa mulher escreve e ela sempre terá um lugar cativo no meu coração e na minha estante.
Eu só posso deixar aqui meu apelo para que leiam esse livro e que sintam o turbilhão de emoções que senti. A jornada da Elsa, em sua luta por sobrevivência e por manter sua família segura e alimentada, é de roubar o fôlego. Não tem como ler e não SENTIR, não desejar que tudo fosse diferente, que a realidade fosse menos cruel, que as pessoas fossem mais humanas, e que o mundo fosse sim, um lugar seguro para aqueles que nele habitam. É revoltante ver o quanto o capitalismo é o que sempre fala mais alto, mesmo que muitos estejam morrendo por causa dele. E que mesmo com tantos alertas sobre as consequências do mau uso do meio ambiente, seguimos repetindo os mesmo erros, incapazes de enxergar que a revolta da natureza pode ser implacável. Enfim… é uma leitura arrebatadora, crua, capaz de tirar da zona de conforto e te colocar para pensar por dias e dias. Amei!
FICHA TÉCNICA:
Sinopse: Texas, 1921. Passada a Grande Guerra, uma nova era de abundância parece surgir no horizonte. Mas, para Elsa Wolcott, considerada velha demais para se casar numa época em que o matrimônio é a única opção das mulheres, o futuro parece sombrio. Até a noite em que conhece Rafe Martinelli e decide mudar o rumo de sua vida. Com sua reputação em ruínas, ela acaba tendo que se unir a um homem que mal conhece. Treze anos depois, o mundo é bem diferente: milhões estão desempregados devido à Grande Depressão e à seca que devasta as Grandes Planícies, dizimando plantações e provocando tempestades de areia. Tudo está morrendo na fazenda Martinelli, inclusive o casamento de Elsa e Rafe, e cada novo dia é uma batalha pela sobrevivência. Nesse momento incerto e perigoso, ela deve fazer uma escolha angustiante: lutar pela terra que tanto ama ou deixar tudo para trás e partir para o Oeste, rumo ao desconhecido, em busca de uma vida melhor para sua família. Com o estilo apaixonante de Kristin Hannah, Os quatro ventos é uma história sobre resiliência e a força do espírito humano para sobreviver à adversidade, vista pelos olhos de uma mulher cujo sacrifício e cuja coragem representam toda uma geração.
Drama, Ficção | Kristin Hannah | Editora Arqueiro | 1º Edição | 2022 | 384 páginas | Tradução: Claudio Carina | Cortesia | Classificação: 5/5 🖤 | Onde encontrar: AMAZON – SKOOB
Até a próxima! Bye.
