Olhos Vazios – Charlie Donlea | Faro Editorial

por Biia Rozante
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Caros, leitores! Hoje venho conversar com vocês sobre a oitava leitura que fiz do autor Charlie Donlea, sim ao todo já temos oito livros do autor publicado aqui no Brasil pela Faro Editorial, e ele não deixa de me surpreender, de se consolidar como um autor favorito, sempre evoluindo e entregando um livro melhor que o anterior, com personagens interessantes, muito bem construídos, enredos viciantes, explorando nossas emoções na medida perfeita a ponto de nos prender do início ao fim e ainda conseguir gerar a expectativa do desfecho, o friozinho na barriga, o arrepio de ter lido algo incrível.

Em OLHOS VAZIOS, logo de início, já somos levados para uma cena sangrenta, uma família é executada a sangue frio, entretanto, resta um sobrevivente, uma jovem de dezessete anos que consegue se safar daquela matança e é encontrada pela polícia, suja de sangue e segurando a arma do crime. Obviamente, que a cena causa estranheza para quem se depara com a jovem ali, e imediatamente já se começam as especulações e se levanta a possibilidade de ela ser a criminosa. Assim, que a tiram da casa afim de levá-la para interrogatório, um aglomerado de curiosos e jornalistas, já se instalaram por ali e estão a todo custo tentando uma imagem, um furo de reportagem, e apontam tanto uma câmera filmadora em sua cara, quanto um microfone, a questionando sem que ela tenha tempo de se quer reagir. A cena captada, causa um grande alvoroço, e Alex, a sobrevivente daquela noite, é chamada de OLHOS VAZIOS, já recebendo a sentença por parte da mídia e seus telespectadores. Sua vida é duramente exposta, escancarada de todas as formas, a polícia em sua sede de receber uma confissão agem como verdadeiros abutres, e nem cogitam a possiblidade dela não ser o que está sendo acusada de ser, ou seja, a assassina de sua família.

“(…) Ela acabou de ver a família ser assassinada e agora a estão interrogando em busca de uma confissão sem o consentimento de um responsável legal. Vão manter a pressão sobre ela, até a garota dizer o que eles querem ouvir. E aí será tarde demais.”

É Garrett Lancaster, o seu advogado quem a resgata naquela noite, e quem se torna seu apoio. É ele também, que entra com uma ação contra o estado a fim de ajudá-la a ser indenizada após provada a sua inocência. O problema, é que Alex entende muito cedo, que mesmo sendo inocente, um alvo sempre estará em suas costas, ela jamais será livre, porque a ideia de que ela é a assassina já está impregnada na mente das pessoas, a mídia contou sua historinha, as pessoas querem ver ela pagar pelo crime, e a estão vigiando de perto o tempo todo. Sua única opção seria se mudar, e mudar tudo sobre si mesma.

Dez anos se passaram, e Alex nunca conseguiu esquecer aquele dia, o assassino frio e cruel, e como aquela noite se desenrolou, sua mente ferve e volta para aquele momento todos os dias. Ela quer a verdade, e sempre lutou para conseguir respostas, ainda que ninguém mais se importe, porém, por mais que ela vá atrás de informações e novas pistas, tudo parece terminar em um beco sem saída. Ela precisou lidar com essa frustração e seguir sua vida como deu, se tornou uma investigadora jurídica, uma das melhores, e já que não consegue fazer justiça por si, irá fazer pelos outros. E é assim que ela se depara com um novo caso, um jovem precisando de ajuda, um rapaz que ela acredita estar sendo acusado inocentemente, ela conhece esse sentimento e não medirá esforços para ajudá-lo. E quanto mais ela mergulha nessa investigação, mais estranha se torna toda a situação, a levando de volta para a noite mais traumática da sua vida, e com pequenas conexões que podem mudar tudo que ela sabia até então. Ela não irá descansar, enquanto não esclarecer tudo, detalhe por detalhe daquela noite horrorosa.

“— Bem, as coisas ruins também fazem parte de mim. Eu tentei deixá-las pra lá, mas não funciona para mim. Procurar, nem sempre encontrar algo, mas procurar… me faz sentir que não estou me esquecendo deles. E como não quero esquecê-los, nunca vou parar de procurar.”

Uau… eu amo que ainda posso dizer isso sobre os livros do Charlie Donlea. Terminar uma leitura com o queixo caído, surpreendida pelo desfecho e aplaudindo todas as conexões e os detalhes que vão sendo deixados ao longo da leitura, e até mesmo aquilo que parecia te levar para longe, na verdade está te colocando no caminho certo, é incrível. É o que eu chamo de teia perfeita.

OLHOS VAZIOS, começa de maneira frenética, logo de cara estamos acompanhando um assassinato brutal, e esta cena em si, já é chocante, mas já te aviso, que não é o pior que iremos ler. Seguimos e vamos nos deparar com três épocas diferentes, um passado mais distante, o passado e então o presente. E tudo parece muito desconexo em um primeiro momento, mas quem conhece a escrita do Charlie, sabe que nessas histórias sempre aparecem chaves para o que está acontecendo ou já aconteceu. E sim, ele interliga tudo, e quando essa conexão acontece, é como se ele tecesse uma mágica. E acredite, desconfiar, ou saber quem cometeu o quê, não estraga a leitura, porque existe muito mais por trás de cada ação, e o Charlie vai segurar o suspense e as reviravoltas até o último instante.

Como vocês já devem ter notado, eu AMEI a leitura. Acho que a obra trás pontos muito interessantes para serem debatidos, como por exemplo o desserviço que muitas vezes, a mídia faz sobre um caso, criando um circo, contando uma história, que está fora do que as provas, pistas e perícia tem a dizer, e ainda que eu não esteja aqui generalizando, estamos cientes do quanto o clique muitas vezes, vale mais que uma vida. E é importante, já frisar outro ponto, às vezes no primeiro momento com conclusões precipitadas, se aponta um dedo, se lança uma palavra e essa, mesmo que corrigida depois, já marcou o alvo. Outro ponto que quero falar é sobre como nossa infância, e acontecimentos que ali aconteceram, impactam nossa vida adulta. Sobre a falta de empatia e humanidade, que infelizmente tem se tornado cada vez maior em nosso meio, na ânsia de se estar certo, de ser o primeiro. Sobre a importância do afeto, de ter alguém com você, de buscar um pilar que vai te sustentar mesmo quando tudo estiver desmoronando.

“(…) Uma garota desaparecida era mais interessante do que uma garota morta. E uma garota morta só era interessante enquanto o seu assassino estivesse à solta. Era uma triste realidade da sociedade americana. Delitos sórdidos conquistavam o interesse do público…”

Alex é uma personagem muito interessante, falar aqui que ela é inocente não é spoiler, isso já ficou claro na sinopse e o autor não brinca de tentar fazê-la parecer culpada depois. Ela tinha apenas dezessete anos quando tudo aconteceu, se imagine nessa situação, você está dormindo e acorda com um barulho diferente, levanta-se para ver o que está acontecendo e presencia a morte de sua família, junto a isso, bate o desespero de ser a próxima vítima, precisando encontrar uma forma de sobreviver. Ela não teve tempo de assimilar o que viu, de tentar entender o porquê, ela apenas agiu por instinto. Quando a polícia chega e a encontra, automaticamente a tomam como culpada e a levam para interrogatório sem dar a ela a chance de entender do que estava sendo acusada, ou seja, traumas e mais traumas, o despreparo do departamento policial é absurdo e como eles procedem a partir dali… Dez anos se passam, de alguma forma, Alex conseguiu seguir sua vida, ainda que presa aquela noite que nunca teve um desfecho, ela apenas seguiu e no meio do caminho perdeu muito, ela precisou sair do país, mudar de aparência, para assim conseguir o mínimo de privacidade para existir. Sua vida toda foi pautada por aquela noite e pelo apelido que recebeu OLHOS VAZIOS. Trabalhando como investigadora jurídica, ela já se deparou com muitos casos horríveis, mas nenhum a tinha pegado como o de Matthew Claymore, um jovem que está sendo acusado pelo desaparecimento da namorada Laura. E Alex, que entende o sentimento e não quer ver outro inocente ruir, mergulha de cabeça na investigação, e quando isso acontece uma estranha conexão a leva de volta para a noite do massacre da sua família… e a verdade pode ser muito mais perigosa do que ela esperava.

Que livro inteligente, com viradas narrativas perspicazes, que prendem o leitor do início ao fim. Personagens bem construídos, um enredo desenvolvido com maestria, com peças que se encaixam com perfeição no momento certo, uma narrativa fluida e sagaz. E assim Charlie segue se consolidando, e mostrando que tem muito para entregar e surpreender o leitor, sem medo de ousar. E ele ainda trouxe um bônus muito especial, um personagem queridinho de outro livro, dá as caras por aqui e se torna fundamental para o desfecho.

Apenas deem uma chance, este livro pode ser a sua porta de entrada para este caminho sem volta de ser um fã do autor e ler tudo que ele escreve. E se você já é leitor dele e fã, é um prato cheio para admirar e querer aplaudir sua capacidade de seguir construindo histórias que ficam com a gente mesmo depois do fim. Com certeza, já quero muito mais do autor na minha estante.

OLHOS VAZIOS

Sinopse: ELA MUDOU O NOME E A APARÊNCIA… MAS NADA PODE APAGAR O QUE TESTEMUNHOU. Alex Armstrong mudou tudo sobre si mesma: seu nome, sua aparência, sua história. Ela não é mais a adolescente aterrorizada que apareceu na TV, algemada, sendo conduzida da casa onde vivia até a noite em que sua família foi massacrada. Apelidada de Olhar Vazio pela imprensa, ela foi acusada dos assassinatos, teve a vida duramente exposta pelos veículos de comunicação, mas lutou com todas as suas forças para limpar o seu nome. Dez anos se passaram e Alex nunca parou de procurar pela verdade, mesmo tendo de esconder sua identidade da horda de fanáticos por crimes reais e repórteres desesperados por qualquer notícia sobre seu paradeiro. Agora como investigadora, ela trabalha incansavelmente para garantir justiça para outros acusados. Pessoas como Matthew Claymore, que é suspeito do desaparecimento da namorada, uma estudante de jornalismo chamada Laura McAllister. Laura estava prestes a divulgar uma grande história sobre estupro e acobertamentos em sua faculdade. Alex acredita que Matthew é inocente e descobre revelações impressionantes sobre o corpo docente da universidade, alunos e pais poderosos dispostos a fazer qualquer coisa para proteger os filhos. Mas ao iniciar sua investigação, Alex encontra conexões surpreendentes com o assassinato da própria família. Por mais diferentes que os crimes possam parecer… *** Este é um thriller explosivo que você não conseguirá largar.

Ficha técnica:

Thriller | Charlie Donlea | Faro Editorial | 2023 | 1ª Edição | 320 Páginas | Tradução: Carlos Szlak | Classificação Indicativa: 18+ | Cortesia | Minha avaliação: 5/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON

Até a próxima! Bye.

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