TODOS OS CAMINHOS ME LEVAM ATÉ VOCÊ – Mariana Zapata | Editora Charme

por Biia Rozante
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“Talvez o amor tivesse um preço, mas não deveria ser tão alto.” 

Caros leitores! Estou em um momento que acredito que todos os livros da Mariana Zapata que eu pegar para ler, irei amar, ainda que seu enredo não seja perfeito, que existam pontos a serem conversados, e que seus protagonistas sejam homens tirados de um sonho e com isso eu me sinta estragada para a vida real. O fato é, que quando leio um livro dela, eu sinto as emoções, e amo a destreza que ela tem de fazer sorrir em um parágrafo e chorar no outro, de arrancar um sorrisinho, ou um suspiro, de me fazer querer seguir acompanhando a vida dos personagens mesmo depois do fim. Amo como ela constrói os romances, porque sim, estou lendo um romance e quero acreditar que aquele relacionamento é verdadeiro, estar convencida do porquê eles chegaram até ali, enxergar o amor que eles estão jurando um pelo outro. E isso eu encontro. 

Aurora de La Torre, precisa recomeçar – outra vez -, e por mais assustador que isso pareça, ela sente que está no caminho certo, Pagosa é a cidade na qual nasceu, onde viveu momentos de muita felicidade ao lado de sua mãe, mas também é o local marcado por uma dor pungente, foi ali que sua mãe sofrerá algo horrível e retornar para lá agora, pode significar estar mais próximo dela, de sua força, de sua presença e quem sabe aplacar um pouco da saudade que só faz doer. 

“As pessoas choram quando as coisas terminam, mas às vezes é preciso chorar nos recomeços. Eu não ia esquecer o que deixará para trás. Mas eu ficaria animada — o quanto conseguisse — com esse novo começo, não importava como fosse terminar.” 

Fugindo de um relacionamento conturbado, marcado por exploração, menosprezo e unilateralidade, faz com que ela deseje mais do que tudo, sossego, se sentir acolhida, ter segurança e paz, e o anúncio que encontrou na internet de um pequeno apartamento oferecia justamente isto. Ela só não contava com o fato, de que na verdade não era para o apartamento ser alugado, o proprietário, Rhodes, não queria um estranho por perto, mas seu filho, Amos, tinha um plano… plano este que acabou não saindo exatamente como o planejado. Mas, que culpa Aurora tem, ela já pagou pelo aluguel e está disposta a pagar um pouco mais se preciso, não tendo para onde ir ficar ali, mesmo que a contragosto do dono, é sua única opção.

E é aqui que de fato a história começa a se desenrolar… Aurora vai se estabelecer, e reencontrar com uma amiga de longa data, Clara, alguém com quem ela manteve contato, inclusive é na loja da amiga que ela irá arrumar emprego, uma rotina será estabelecida, o que vai permitir que ela volte a despertar para a vida, abandonando as velhas feridas e buscando se reconectar com si, se reaproximar das lembranças da mãe, e para isso ela irá explorar a cidade, fazer as trilhas que a região oferece, tudo usando os diários que pertenceram a sua mãe. E por mais que Aurora tente dizer que está tudo bem, que o que aconteceu com a mãe foi a muito tempo, percebemos o quanto não ter um desfecho palpável para isso, ainda é uma questão e que ela segue buscando por isso, mesmo que inconscientemente. E em meio a tudo isso, ela ainda vai se deparar com Rhodes e seu filho. Rhodes que é guarda florestal, e Amos, um adolescente tímido e doce. 

TODOS OS CAMINHOS ME LEVAM ATÉ VOCÊ, é mais que um romance romântico, é uma história de recomeço, de busca por identidade e de aproximação entre mãe e filha. Aurora é o tipo de personagem que brilha, ela é radiante, tagarela, cheia de vontade de viver, um ser positivo e alegre, apenas porque é assim… e sempre encontra algo bom, mesmo em situações ruins. Só que também, é uma personagem sensível, marcada por perdas dolorosas, vulnerável, que se emociona com gestos simples, que chora porque alguém demonstrou cuidado por ela. Já Rhodes é o oposto, ele é fechado, introspectivo, ranzinza, desconfiado, sempre com um pé atrás, e por outro lado, também é um excelente pai, amoroso, cuidadoso, com um coração gigante, generoso – a relação dele com os melhores amigos, é algo que emociona. E temos ainda, o Amos, filho do Rhodes, um adolescente tímido, gentil, doce, muito talentoso e que também está tentando descobrir como lidar com as situações novas de sua vida. Este trio de protagonistas juntos… são maravilhosos. 

“(…) Você não deve se importar com o que os outros pensam, já que eles não têm coragem de fazer o que você faz. Você também tem que se lembrar disso. A única opinião que realmente importa é a sua e as das pessoas que você respeita. Todo mundo tem medo de alguma coisa, e a perfeição não é uma possibilidade real. Somos humanos, não robôs.” 

O romance é muito bem construído, vamos encarar um primeiro contato áspero, arisco, com desconfiança, Rhodes não é fácil, ele precisa que sua confiança seja conquistada, e Aurora com seu jeitinho todo raio de sol, vai conseguindo se infiltrar aos pouquinhos. Ambos são personagens mais maduros, com bagagem, eles não estão buscando paixão, compromisso, mas vão encontrar isso da maneira mais natural, gradual, partindo do eu não sei se gosto de você, para um talvez eu goste e por fim, um podemos nunca mais nos separamos. E a forma como isso vai sendo criado diante dos nossos olhos, convence, porque o que eles estão vivendo é um efeito colateral do amadurecimento, do espaço que deram um para o outro, dos limites que foram respeitados, da junção do que há de melhor neles. Existe zelo, proteção, carinho, respeito, apoio e tudo isso de maneira espontânea e não porque alguém pediu ou mandou.

Preciso deixar uma menção honrosa, a amizade que Aurora desenvolve com Amos, eu simplesmente amei toda a interação entre eles, e boa parte do meu amor por essa leitura, vem deles. 

Com uma narrativa envolvente e viciante encontramos aqui neste enredo um livro de aquecer o coração. É uma leitura leve, descomplicada, com emoções borbulhantes, onde em um parágrafo estamos sorrindo e no próximo com os olhos cheios de lágrimas, onde uma cena – simples -, um despir de roupa soa mais erótica do que uma cena explicita. Com construção de relações saudáveis, sejam afetivas, ou entre amigos e família. Zapata sabe como nos fazer sentir, como acessar nossas emoções e o faz de maneira primorosa. Não é à toa, que ela se tornou minha autora de fuga, minha leitura de conforto, porque sim, ela consegue me desligar da realidade e isso às vezes, é tudo que eu preciso. 

“Conheci pessoas que não sabem o que é estar triste. Conheci pessoas resilientes. Mas você… — Balançou a cabeça, olhando para mim daquele jeito que não sabia se eu era um guaxinim doente. — Você tem essa faísca da vida que nada nem ninguém consegue tirar, apesar das coisas que te aconteceram, e eu não entendo como você ainda consegue… ser você.” 

É importante frisar que o livro aborda ainda que de maneira superficial relacionamentos abusivos, luto e depressão. Se você é sensível aos temas se mantenha atento. 

Eu poderia concluir a resenha aqui, mas como eu mencionei lá no comecinho, não temos um enredo perfeito, e eu sinto que preciso vir apontar algumas coisas que eu não gostei com vocês. Primeiro de tudo é algo que não é exclusivo deste livro, e sim uma questão que vem chamando minha atenção em cada leitura que faço da autora, seus livros não possuem representatividade, este é o quinto livro que leio e mais uma vez, quando nos deparamos com uma minoria, ela está associada a ser um ponto de suporte, de escada para os protagonistas que são brancos e padrões, estes personagens acabam não sendo bem aproveitados e os desfechos são rápidos e evasivos. Aqui isso acontece com a personagem Clara, uma mulher preta que tinha muito para ser explorado, mas que ficou como um pano de fundo e o final não fez sentido para mim. O outro ponto que trago, é sobre este livro em específico, Mariana Zapata é a rainha do slow burn, e eu amo isto, amo a construção e o queima lento, mas aqui tivemos um excesso de repetições, de voltas, já estávamos mais do que cientes do que tinha acontecido, e era algo que aurora ficava remoendo e remoendo infinitamente, sempre trazendo as mesmas coisas à tona, e isso pode sim cansar o leitor em alguns momentos. 

Dito tudo isto, quero reforçar o quanto eu INDICO e RECOMENDO a leitura, para todos aqueles que amam romances bem construídos e desenvolvidos. E a edição da EDITORA CHARME, está primorosa. 

TODOS OS CAMINHOS ME LEVAM ATÉ VOCÊ – Mariana Zapata

Sinopse: É difícil perder as pessoas que amamos. Aurora De La Torre sabe que voltar para um lugar que já foi o seu lar não será tão fácil. É muito provável que recomeçar do zero também não seja. Mas uma pequena cidade montanhosa pode ser a cura perfeita para o seu coração partido. E espiar o seu locador do outro lado da propriedade também pode ajudar a curá-lo.

Ficha técnica: 

Romance, Slow Burn | Mariana Zapata | Editora Charme | 1ª Edição | 2024 | 607 páginas | Tradução: Aline San’tana | Classificação indicativa: 18+ | Minha avaliação: 4,5/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZONLOJA CHARME. 

Até a próxima! Bye. 

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