Caros, leitores! Se você faz parte dos primórdios aqui do blog, sabe que eu tenho uma relação complicada com a Jane Austen, ao mesmo tempo em que a admiro imensamente por tudo que ela construiu, contribuiu e fez pela literatura, encontro a dificuldade de gostar de sua narrativa, e não é por falta de tentar, é que realmente não bate, eu encontro a beleza de suas obras, aplaudo sua coragem e maestria, e sofro com o quanto suas letras me deixam cansada, infelizmente seu texto me soa chato e morno. E estou trazendo isto desde o início, porque como falei, eu encontro beleza em sua obra, eu sei apreciar o que ela tem a passar, ainda que a leitura não me soe fluida. E você aí do outro lado, pode se encontrar na mesma posição que eu, querendo ler tudo que essa autora escreveu, ainda que não seja um favorito seu. Porque ser leitor também é sair da zona de conforto, e se desafiar, e quem sabe assim, se surpreender.
Elizabeth Bennet é a segunda filha de uma família com cinco irmãs, com vinte e um anos de idade, está muito ciente da situação financeira precária ao qual eles enfrentam. Sua mãe é uma verdadeira matriarca casamenteira, desesperada, na verdade obcecada, para ver suas filhas bem casadas, e isso poderia apenas ser o desejo de uma mãe de ver suas filhas subindo ao altar, mas aqui na história levando em consideração o período em que se passa, existe a preocupação de que se o pai morrer, elas ficariam ao relento, dependendo de caridade até mesmo da própria família. Então imagem a polvorosa quando chega a cidade um jovem de grande fortuna, ainda considerado belo, Mr. Bingley, que claramente se torna o alvo de todas as mães da região.
“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro dotado de fortuna deve estar à procura de uma esposa. Por mais que não saibam dos sentimentos ou opiniões de tal homem ao adentrar pela primeira vez determinada vizinhança, essa verdade está tão bem enraizada na mente das famílias das redondezas que ele logo é considerado como propriedade legítima de uma ou outra de suas filhas.”
Só que Mr. Bingley, tinha uma surpresa, levará um amigo consigo, Mr. Darcy, um homem de fortuna ainda mais notável, de beleza ainda mais considerável, entretanto com modos repugnantes, o homem se revela um insuportável, com seu olhar altivo, feições arrogantes, acaba por afastar as pessoas, já que está dotado de preconceitos e julgamentos. Nem nossa amada Elizabeth escapa de seu escrutínio e ofensas. Obviamente a antipatia mutua entre eles está instalada. E quem pensa que ela chorará sua humilhação está enganado, Elizabeth pode ser tão cruel, preconceituosa e dona de uma língua afiada, tal qual Mr. Darcy, perfeitos imperfeitos feitos um para o outro.
Só que para percorrerem o caminho um para o outro, primeiro eles precisarão amadurecer, aprender e crescer muito, e não será uma jornada fácil, nem simples, principalmente porque a principal guerra que irão enfrentar é contra eles mesmos, seus orgulhos, seus preconceitos, julgamentos e tudo aquilo que os repelem, na mesma proporção em que os aproximam.
“— A quem se refere? — E, virando-se, ele olhou por um momento para Elizabeth, até encontrar seu olhar e, ao desviá-lo, disse friamente: — Ela é tolerável; mas não é bonita a ponto de me atrair; e não estou disposto no momento a dar atenção a moças desprezadas por outros homens.”
Eu gosto muito de alguns pontos nesta história, a começar por em uma época onde mulheres não tinham voz, Elizabeth é cheia de opiniões, dona de uma personalidade forte, inteligente, ácida, irônica, ela não permite que a passem para trás, que a menosprezem, ela sabe se impor, responder a altura. E existe o fato de que mesmo sabendo do destino de uma mulher ficando para “titia”, ela parece não se importar, a solidão não a apavora. Outro ponto que preciso mencionar é a crítica a sociedade e toda sua hipocrisia, Jane Austen retrata a época sem amarras, fala de seus preconceitos, das tradições, da cultura e como tudo era ditado com orgulho pela hierarquia, diferenciando as pessoas por aquilo que possuíam e os menosprezando pelo mesmo motivo. A própria figura de Mr. Darcy é um retrato perfeito disto, um homem poderoso, de muita riqueza, bonito, culto, que deixa Londres e vai para o campo junto com seu amigo, se vendo ali no meio de pessoas que ele julga inferiores, baseado única e exclusivamente em suas posições sociais e posses. Ele não poupa antipatia, até o momento em que é confrontado por aquilo que ele passa a sentir pela jovem Elizabeth que o desafia, intriga e incomoda.
Não podemos dizer que ORGULHO E PRECONCEITO é uma obra simples, muito pelo contrário, eu diria que é complexa em sua construção e na forma como debate o amor em sua forma mais crua e primitiva. Pra mim, Elizabeth e Mr. Darcy tentam muito se livrarem do que passam a sentir um pelo outro, se enxergam como errados, só que o encantamento assim como aversão se tornam mútuos, e quanto mais eles tentam não se encontrar, mais acabam se esbarrando e essas aproximações, esses encontros e desencontros, proporcionam diálogos divertidos, provocativos, cheios de alfinetadas os levando a se conhecerem como realmente são. E quando palavras deixam de ser o suficiente, entra o gesto, a ação, uma forma de provar que o que se sente é realmente verdadeiro.
“— Em casos como este, creio que é esperado expressar agradecimento pelos sentimentos confessados, por mais que não sejam recíprocos. É esperado que se fique grata, e se eu pudesse sentir gratidão, eu lhe agradeceria agora. Mas não posso… nunca almejei seu apreço, e o senhor certamente o concedeu muito a contragosto. Lamento ter lhe causado dor. No entanto, foi feito da forma mais inconsciente, e espero que seja de curta duração. Os sentimentos que, segundo o senhor me diz, há muito o impedem de reconhecer seu afeto, podem tornar mais fácil sua superação após esta explicação.”
Como um bom clássico, este livro ultrapassa as linhas do tempo e segue sendo muito atual, verdadeiro e necessário, por isso caros leitores, eu espero que você, caso ainda não tenha dado uma chance, dê, leia ORGULHO E PRECONCEITO.
A Faro Editorial deixo meu agradecimento pelo livro cedido, que edição linda, diagramação impecável, a escolha das cores, tudo neste trabalho está maravilhoso, é a edição que irá permanecer na minha estante.
ORGULHO E PRECONCEITO
Sinopse: Considerado um dos mais importantes romances de todos os tempos, Orgulho e Preconceito acompanha a turbulenta relação entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, a qual, nascendo de uma antipatia mútua, acaba resultando em uma inesperada história de amor. Com sarcasmo mordaz e inteligência profunda, por entre peripécias, desencontros e tramas paralelas quase tão interessantes quanto a trama principal, a obra retrata o amor como produto do desenvolvimento do caráter desses personagens complexos que, para tornarem-se aptos a amar e serem amados, precisam antes vencer o orgulho e o preconceito de que padecem. Trata-se de uma obra que abarca, inverte e transcende todos os clichês. Longe de brotar de uma sensação prazerosa imediata e da certeza de ter encontrado “a alma gêmea”, o amor entre os protagonistas é resultado de um lento crescimento moral provocado por uma aversão recíproca; antes de proceder de um esforço para conquistar o outro, o carinho advém da admiração moral entre duas pessoas. O amor do outro é um prêmio pela vitória sobre si mesmo. Sob a forma de uma história divertida e perspicaz, o romance faz uma das reflexões mais profundas da história sobre a natureza do amor. O leitor farto da superficialidade com que se fala do tema no nosso tempo descobrirá que este livro é de uma atualidade urgente. Pois como todo clássico, Orgulho e Preconceito não é do nosso tempo, mas de todos os tempos. Esta é uma edição especial, em duas cores, e inclui tipografias especiais e litografias.
Ficha técnica:
Clássico, Romance | Jane Austen | Faro Editorial | 1º Edição | 2023 | Tradução: Nathália Rondan | Classificação Indicativa: +12 | Cortesia | Minha avaliação: 3,5/5 | Onde encontrar: SKOOB – AMAZON
Até a próxima! Bye.