Alguém para abraçar – Mary Balogh | Editora Charme

Série Westcott – Livro 2

por Biia Rozante
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Caros leitores! Se posso afirmar algo logo de início é o quanto estou amando esta série. Existem camadas e histórias tão interessantes a serem contadas, que só consigo seguir feliz, por saber que ainda teremos muito pela frente. Existe uma delicadeza, uma sutileza na maneira como assuntos sérios são retratados que me encanta. E existe algo que não consigo identificar, mas que me deixa profundamente conectada com os personagens, me identifico, é algo quase palpável, mas ainda não me é nomeável – pode ser uma falta, algo que não identifiquei em mim ainda, ou apenas uma grande admiração pela escrita da autora, não sei dizer, só sei que existe um algo a mais e eu amo essa sensação enquanto estou lendo.

ALGUÉM PARA ABRAÇAR, é uma continuação do livro ALGUÉM PARA AMAR (Resenha aqui), e mesmo assim, pode ser lido independente, mas quero ressaltar o quanto eu acho importante que você os leia em sequência de publicação, porque assim você consegue absorver melhor o contexto do enredo, assim como as personalidades e as batalhas de cada personagem.

“(…) Às vezes, as palavras de outras pessoas se tornam espelhos desconfortáveis em que olhamos para nós mesmos.”

Camille Westcott tem buscado a si mesma após a morte do pai e todas as reviravoltas que isso causou, sua vida mudou drasticamente a colocando em uma posição jamais imaginada, de lady a uma paria social, uma ilegítima, não tem mais título, prestígio, dinheiro, nada, até seu noivo a abandou. Deixou seu lar, a única vida que um dia conheceu e foi embora de Londres, para uma cidade interiorana onde sua avó materna a acolheu juntamente com sua irmã mais nova, e mesmo com todo o carinho, e necessidades supridas, ela sente que precisa encontrar seu próprio caminho, um proposito, conhecer uma versão de si mesma que muito tempo ela negligenciou devido as regras e convenções sociais. E é isso que ela faz, munida de determinação mergulha no desconhecido.

Camille se candidata a vaga de professora no orfanato no qual sua meia-irmã recém-descoberta, lecionou. Mais do que isso, ela se muda para o quartinho no qual ela também morou. E ainda que para muitos isso soe como uma repetição, um equívoco, quase como se ela estivesse sendo uma impostora, para ela é muito maior que tudo isso. É sobre entender a pessoa que acabou de chegar na sua vida, entender a si mesma, descobrir a vida como ela realmente é. Enquanto tudo na sua vida foi uma busca incessante pela perfeição, por ser o que precisava ser, ali naquele pequeno lugar com crianças órfãs, ela consegue entender o que é o amor, o cuidado, a empatia, o que ela pode ser, ela enxerga independência, liberdade. E nessa jornada de autodescoberta, ela se depara com Joel, o professor de artes, um jovem intrigante e com um olhar acusador.

“Pintar, para ele, Camille percebeu então, não era um hobby nem apenas uma forma de ganhar a vida. Era uma paixão e uma compulsão. Em certo sentido, era quem ele era. Camille o invejou. Nunca tinha sido apaixonada por nada na vida. Ela nunca se permitira ser…”

Joel é o melhor amigo de Anna, a meia-irmã de Camille. E mesmo sem conhecer Camille pessoalmente já nutre por ela uma antipatia, já que ela sempre se mostrou reticente, inabalável, fria, uma general que não consegue aceitar o fato de que Anna existe. Eles serão colegas no trabalho, e como se não bastasse ter que permanecer na presença um do outro durante as aulas, a avó de Camille o contrata para pintar os retratos de suas duas netas, agora ele terá muito tempo na presença da austera srta. Westcott.

Como já mencionei no início desta resenha, eu AMEI ler ALGUÉM PARA ABRAÇAR, Camille é uma jovem que viu sua vida virar do avesso, sem que ela tivesse qualquer controle sobre a situação. Quando paramos e pensamos na época em que a obra se passa e em como a sociedade funcionava, não tem como não sentir toda a agonia de alguém que está sendo retirado do meio no qual sempre viveu, tendo vários dedos apontados para si, ao passo que não tem nenhuma responsabilidade por esse evento, mas que terá que sofrer as consequências. Tudo foi “roubado” dela, seu título, sua casa, sua família, seus amigos, o conforto, até mesmo seu noivado. Tudo que ela conhecia sobre ela, sobre a vida, não resta nada. E ela precisa se reencontrar, se entender, se despir de tudo que ela construiu ano após ano, e vê-la se percebendo, amadurecendo, colocando suas partes é lindo, e é só quando isso acontece que ela também compreende e até aceita, todas as partes de sua vida, boas e ruins.

“— Se esta for à sua maneira de reunir informações a meu respeito para que possa pintar um retrato convincente de mim sr. Cunningham — respondeu ela, antes de sair da sala à sua frente —, eu o avisaria de que não vou facilitar. Mas se o senhor conseguir me conhecer, por favor, conte-me o que descobriu. Eu não tenho ideia de quem eu sou.”

Já Joel, cresceu no orfanato, o caminho a seguir sempre pareceu ser apenas um, trabalhar, conquistar seu próprio espaço, sem grandes pretensões, expectativas, só vivendo um dia de cada vez, mantendo seu objetivo sempre em foco. E ele conseguiu, se tornou um pintor retratista talentoso, que traz um algo a mais em suas pinceladas, capaz de captar a essência de quem ele está pintando, entregando uma obra realista, cheia de charme e um encanto quase surreal. E não demora para ele perceber que a primeira impressão que teve a respeito de Camille estava errada, ele irá notar que por baixo de sua aura severa, existe uma doçura, uma generosidade, uma mulher que merece ser amada e abraça, assim como ele.

Camille é uma personagem complexa, que pode até causar um distanciamento inicial do leitor, mas até isso eu sinto que é proposital pela autora. Ela quer mostrar essa jovem no seu estado mais cru, e até mesmo expor seu comportamento desdenhoso, exibir a maneira como ela enxergava as coisas estando por “cima” e então, ver essa jovem “caindo”, e precisando recolher seus pedaços, mais do que isso, passar a ser alguém, que ela mesma julgava. E foi muito interessante encontrar uma mulher que não irá se entregar a lágrimas, depressão… ela vai à luta.

“Ela entendia, ele percebeu com alguma surpresa. Ela sabia a diferença entre saber sobre alguém e realmente conhecer essa pessoa. Ela começando a intrigá-lo um pouco.”

O romance neste livro para mim funcionou. Ele é gradual, delicado, ele não é o foco, porque o foco é principalmente a jornada individual dos protagonistas. Eles precisam passar pelo que passam, se conhecerem, se permitirem construir uma amizade, ganhar a confiança, se amarem, e então amarem um ao outro.

Deixo aqui essa forte recomendação de leitura. Para todos que gostam de romance de época, com uma protagonista cheia de fibra e disposição, pronta para se encarar e encarar o mundo a sua volta. Com uma narrativa delicada, sensível e cheia de emoções. Que traz temas como perdão, recomeços, autodescoberta, o risco de amar, ser amada e o quanto é corajoso escolher viver esse amor. Uma menção honrosa ao orfanato, as crianças ali presentes, e toda a carga emocional que esse cenário carrega. Tenha em mente que por mais que eu tenha tentado fazer a jus a este livro, eu provavelmente não consegui, então dê uma chance, leia ele e se apaixone também. Muito ansiosa pelos próximos livros da série. Existe personagens que já possuem minha atenção e estou animada para vê-los ganhar voz.

ALGUÉM PARA ABRAÇAR

Sinopse: Humphrey Westcott, o conde de Riverdale, morreu, deixando uma fortuna e um segredo escandaloso que vão alterar para sempre a vida de sua família e mandar uma de suas filhas para uma jornada de autodescoberta… Com o casamento de seus pais declarado bígamo, Camille Westcott agora é filha ilegítima e não tem mais título. Procurando evitar as armadilhas de sua antiga vida, ela deixa Londres para lecionar no orfanato de Bath, onde vivia sua meia-irmã recém-descoberta. Porém, enquanto ainda está se ambientando, ela deve posar para um retrato encomendado por sua avó e suportar um artista que a irrita e a deixa com os nervos à flor da pele. Um professor de arte no orfanato que um dia foi seu lar, Joel Cunningham foi contratado para pintar o retrato da nova professora esnobe. Mas, quando Camille posa para Joel, o desprezo mútuo logo se transforma em desejo. E é apenas o vínculo que existe entre eles que lhes permitirá resistir à forte tempestade que se avizinha…

Ficha técnica:

Romance de época | Mary Balogh | Série Westcott – Livro 2| Editora Charme | 2021 | 1ª Edição | 316 páginas | Tradução: Monique D’Orazio | Classificação indicativa: +18 | Cortesia | Minha avaliação: 5/5 🖤 | Onde encontrar: SKOOBAMAZONLOJA CHARME.

Até a próxima! Bye.

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