Razão e Sensibilidade – Jane Austen | Faro Editorial

por Biia Rozante
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Caros, leitores! Como vocês já sabem possuo uma relação complicada com a autora Jane Austen, pois existe em mim uma sede de poder ler e conhecer todas as suas obras, ao mesmo tempo em que sua narrativa parece não funcionar muito comigo. Gosto de trazer isto sempre que vou falar sobre ela, porque é importante frisar sua contribuição para com a literatura mundial, é inegável seu talento, a forma como ela retrata a época e toda a ambientação, Jane Austen fala do que viveu, conheceu, presenciou e isso enriquece seus textos e por mais que eu tenha uma “dificuldade” com sua narrativa, isso não quer dizer que irei desistir de lê-la. Seguirei persistindo livro a livro e extraindo o melhor de todos eles. E hoje no caso, vou falar de uma releitura, Razão e Sensibilidade.

Razão e Sensibilidade, mergulha na complexidade das relações familiares, assim como do coração humano, tecendo um intricado enredo que irá abordar as emoções, a sociedade e os romances. A trama desenrola-se no cenário pitoresco do século XVIII, onde as convenções sociais e as expectativas moldavam os destinos das personagens. Em meio a salões opulentos e paisagens campestres, somos apresentados às irmãs Dashwood: Elinor e Marianne – as protagonistas, sendo Elinor a mais velha e Marianne a do meio, ainda temos Margaret que é a irmã mais jovem, porém ela pouco aparece. Enquanto Elinor personifica a racionalidade e a reserva, Marianne é o resumo da sensibilidade e do fervor emocional.

“(…) Mas Marianne abominava qualquer tipo de reserva em situações em que nenhuma desgraça concreta pudesse acontecer, e almejar a repressão de sentimentos que eram louváveis parecia-lhe não apenas um esforço desnecessário, mas uma sujeição vergonhosa da razão a opiniões banais e erradas.”

A história se desenrola a partir do momento da morte do pai das jovens, que são filhas de um segundo casamento, sendo assim, a herança passa para o meio-irmão das meninas, que fica com absolutamente tudo, incluindo a casa onde elas moram. “Pobres”, elas vão ser acolhidas por um primo da família, em uma casinha mais humilde, tendo essa troca de ambientação e por consequência novas relações interpessoais, é deste novo momento que elas também irão se deparar com seus novos pretendentes. Mas vale aqui um adendo, na época os dotes, o poder aquisitivo ditava os bons casamentos e as boas relações sociais, o que já deixa o alerta, para o peso da nova realidade que elas estão inseridas e nas dificuldades que irão enfrentar por isso.

Elinor se apaixona por Edward, filho mais velho de uma família rica, com sua reserva e integridade, encarna a virtude rígida que a atrai, entretanto, sua mãe não suporta a ideia de ver seu filho se relacionamento com uma jovem pobre. Já Marianne se apaixona por Willoughby, que mesmo não sendo de uma família tão rica, pertence a uma família de nome e peso, o rapaz personifica o charme e a paixão ardente que seduzem Marianne, levando-a a questionar os limites entre razão e emoção. É como fogo e gasolina, jovens e “inconsequentes”.

Ao longo da narrativa, Jane Austen tece um enredo rico em diálogos perspicazes, ironia sutil e observações penetrantes sobre a natureza humana e a sociedade de sua época. Seja nos salões de baile ou nos bosques silenciosos, cada cena é habilmente construída para revelar as nuances dos relacionamentos entre os personagens, explorando temas universais como amor, decepção, honra, dever e autodescoberta.

(…) Às vezes, somos levados pelo que a pessoa diz de si mesma, e muito frequentemente pelo que as outras pessoas dizem dela, sem no darmos tempo para deliberar e julgar.”

É muito interessante ver a forma como as irmãs são tratadas como contrastes, só que eu consigo enxergar como tanto a razão como a sensibilidade se misturam, elas não são só uma coisa ou outra, elas são ambas. Elas enfrentam situações paralelas, sem que saibam o que está acontecendo uma com a outra. Elas vão sofrer desilusões, decepções e precisar enfrentar escolhas que as colocarão em caminhos se quer cogitados, devido a suas posições sociais e erros cometidos.

Falando dos personagens Elinor é toda discrição e modéstia, busca controlar suas paixões em nome do dever e da prudência e as convenções sociais ditam muito do seu comportamento. Já Marianne, é avessa a contenção, mergulha de cabeça nos seus sentimentos, se entrega a intensidade do que quer, desafiando as convenções e acaba enfrentando as consequências dos seus impulsos. Não irei falar muito dos pretendentes destas jovens, mas… não gostei de nenhum dos dois. E quanto ao meio-irmão e sua esposa… ODIOSOS, são detestáveis, é difícil digerir suas escolhas e posicionamentos. E isso é interessante para a história, pois traz mais um traço verossímil de como as coisas realmente eram na época.

Eu irei ousar dizer que Razão e Sensibilidade, não é apenas uma história de amor, e muito menos uma história água com açúcar. Mas sim, uma exploração profunda da condição humana e das complexidades do coração. Por meio das jornadas emocionais das irmãs Dashwood, somos lembrados da eterna dança entre razão e emoção, e da busca incessante por um equilíbrio entre essas forças opostas, também somos jogados dentro de uma realidade nua e crua, que não ameniza o sofrimento, os obstáculos enfrentados, deixando claro que nem todos os finais são felizes, que alguns são cheios de angústia e lamento, e este para mim, é o ponto alto da história.

“— Se eu pudesse ao menos saber o que havia no coração dele, tudo seria mais fácil.”

Porém, como mencionei no começo, eu tenho um problema com a narrativa da autora, eu não consigo me prender de fato a história, levo dias para concluir a leitura, neste livro em específico, do começo até a metade eu achei lento e difícil, do meio para o fim… arrastado e chato. Não gostei dos personagens, não gostei do desfecho… e está tudo bem, porque mesmo não gostando, eu sou capaz de ver os pontos positivos e entender por que ele é considerado uma grande obra atemporal, e seguirei lendo suas obras.

Por isso, sim eu deixo aqui fortemente a indicação de leitura. Já falei isso outras vezes e volto a repetir, a única forma de saber se você gosta ou não de um livro, é lendo. Aqui eu compartilho a minha experiencia, a sua pode ser completamente diferente.

Antes de concluir, preciso dizer o quanto está linda a edição da Faro Editorial, que diagramação maravilhosa, com algumas notas de rodapé, cores nas repartições de capítulos, realmente está um charme. Eu amei.

RAZÃO E SENSIBILIDADE

Sinopse: Considerado um dos maiores romances de Jane Austen, Razão e Sensibilidade acompanha a vida das irmãs Elinor e Marianne Dashwood enquanto passam por turbulências em busca da felicidade amorosa. Com sarcasmo mordaz e inteligência profunda, entre peripécias, desencontros e revelações, a obra retrata a verdadeira revolução social ocasionada pela mudança para a realização do casamento por amor. Há em Razão e Sensibilidade uma história de amor que, num primeiro momento, parece trivial, mas quando a penetramos profundamente, encontramos uma narrativa sobre maturidade, crescimento pessoal, honra e compromisso, na qual vencem o cultivo do caráter, a sinceridade de propósitos, a paciência, a generosidade e a persistência; e o amor surge como consequência do desenvolvimento da personalidade pelos valores elevados e da síntese entre razão e sensibilidade. Trata-se de uma obra que permanece atual, especialmente numa época como a nossa, em que a insensibilidade assumiu o poder, e a razão é capaz de assumir, muitas vezes, uma voz cínica ou moralista.

Ficha técnica:

Clássico, romance | Jane Austen | Faro Editorial | 2024 | 1ª Edição | 288 páginas | Tradução: Clarissa Growoski | Classificação indicativa: 12+| Cortesia | Minha avaliação: 3/5 | Onde encontrar: SKOOBAMAZON

Até a próxima! Bye.

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