Eu assisti: A Sociedade da Neve

por Biia Rozante
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Caros leitores! Vocês conseguem se imaginar entrando em um avião, ele caindo em uma montanha erma, primeiro sobreviver a essa queda, e mesmo machucado precisar lutar para seguir vivo em um local que só tem neve, quase nada de comida, roupas, ou qualquer equipamento mínimo para sobrevivência, e muitos mortos ao seu lado, pessoas que você conhecia?

Essa é uma trágica história real, que ganhou uma adaptação cinematográfica, baseada no livro homônimo “A Sociedade da Neve, do jornalista Pablo Vierci, publicado no Brasil, pela Companhia das Letras.

No dia 13 de outubro de 1972, o time de rúgbi Uruguaio, juntamente com alguns amigos e familiares, fretou um avião da Força Aérea do Uruguai, com destino a Santiago, no Chile para uma competição. Ao todo 45 pessoas estavam a bordo. Durante o trajeto a aeronave se choca contra uma montanha da Cordilheira dos Andes. Com a queda muitos dos passageiros e tripulantes morrem. Aqui já irei deixar meu primeiro parecer, foi muito inteligente a maneira como J.A. Bayona (diretor) escolheu não ficar retratando o entorno, as histórias, ou os personagens antes da tragédia, o foco não era nos apresentá-los antes e sim, ressaltar a sobrevivência. Em poucos minutos desde o início do filme, já somos transportados e impactados com a sequencia de cenas que marcam a queda aterrorizante, a aeronave se partindo, os bancos se desprendendo e se chocando uns nos outros, corpos sendo arremessados para fora, corpos sendo esmagados, sangue, desespero, membros se quebrando, tudo diante dos teus olhos, é uma cena que rouba o ar, que consegue transmitir o terror, o pânico do que está acontecendo.

Após a queda, nos deparamos com um grupo muito desnorteado, mas sem tempo a perder, e logo eles correm para ajudar uns aos outros, encontrar sobreviventes e ajudar os feridos. Ao final daquela primeira varredura vinte e nove pessoas seguem vivas, mas esse é apenas o início das dores, eles estão em um ambiente hostil, cercados por montanhas congelantes, metros de neve e não possuem o mínimo para sobreviver. Ainda que tomem decisões importantes de procurarem um meio de se isolar dentro do que restou da aeronave e fechar as frestas de ar para passarem aquela primeira noite, o clima é implacável, e o inevitável acontece, mais pessoas acabam morrendo congeladas, ou em decorrência da gravidade de seus ferimentos.

Os dias se alongam, eles precisam aprender a extrair água da neve, se viram como podem com o que encontraram de alimentos. Um dos passageiros, estudante de medicina, consegue oferecer um “suporte” aos mais feridos, e todos tentam se ajudar como podem. Encontram um radinho e é por ele que recebem notícias do mundo exterior, e é por lá que também tomam ciência que as buscas por eles foram interrompidas depois de duas semanas, eles foram dados como mortos. O clima é extremo demais e seguir com as buscas impossível. Mais uma vez, somos tomados pelo desespero daquele grupo, que veem suas vidas se esvaindo por entre seus dedos.

Caminhar para longe de onde estão se revela algo quase impossível, são metros e metros de neve, um clima extremo, fora a desidratação, a fome, por consequência a desnutrição, o sol que queima sem nenhuma misericórdia, e todo o mal-estar que a altitude provoca. Não existem opções, caminhos, meios, só um bando de jovens perdidos e agonizando em vida.

É só então que as primeiras conversas sobre se alimentar dos mortos começam. É muito importante deixar claro aqui, que isso é retratado de modo muito sensível, sutil, não tem nada escancarado, o filme foge do sensacionalismo, do mórbido, do que poderia tornar isso ainda mais difícil do que já é. O que ganha a tela, é a angústia, a agonia, a aflição diante do fim iminente, e ao que se resumiu toda aquela situação. Não é uma decisão fácil, nos acompanhamos o terror psicológico que eles estão enfrentando, o conflito moral, religioso, a luta entre sobreviver e morrer a uma mordida, e é agonizante acompanhar isso. Os choros, as lembranças, o incomodo, o quanto aquilo os consome ao mesmo passo que os alimenta. Não é sobre certo ou errado, é sobre desespero e sobreviver.

Serão setenta e dois dias perdidos no meio da Cordilheira. Ao final desta trajetória dolorosa e drásticas, apenas dezesseis sobreviverão. E é graças a dois dos jovens (Fernando Parrado e Roberto Canessa), que estão em condições razoavelmente melhores que os demais, que caminharam por dez dias, até que encontraram o cavaleiro Sérgio Catalan, que os leva para casa, os alimenta e chama o resgate. E os jovens, no dia 22 de dezembro, de 1972, são resgatados.

É difícil dizer que uma obra adaptada da vida real é bonita, ainda mais uma carregada de tanta dor e perdas, mas a produção me surpreendeu por focar em pontos que vai muito além do sofrimento, da angústia, do desespero, ainda que sejam pontos presentes. Bayona, consegue trazer a humanidade, a camaradagem, a união, a maneira como o grupo escolhe se apoiar, cuidarem uns dos outros, cada um oferecendo aquilo que pode. O que fica no final, mesmo com todo o horror, é a mensagem de esperança, de otimismo, fé e força. E nos faz questionar sobre; o que você faria diante de uma situação como aquela? E se fosse você ali? Até onde você iria para sobreviver?

Eu não sou profissional para falar sobre fotografia, trilha sonora, enquadramento de câmera, figurino, maquiagem, atuação… e por aí vai. O que posso deixar aqui é minha impressão como leiga, e eu amei tudo sobre a produção, achei o trabalho muito bem-feito, os atores muito bem diante dos papeis representados, eles transmitem a emoção, está no olhar, na forma como o corpo fala, em tudo. E achei o figurino e a maquiagem muito bem-feitos, coerentes, me passou verdade. O cenário muito bem explorado, enfim, já deu para perceber que eu gostei.

Apenas assistam, prestigiem a obra, ela está disponível na Netflix. Assista ao trailer a seguir:

Ficha técnica:

Original: La Sociedad de la Nieve

Ano Produção: 2023

Duração: 144 minutos

Gênero: Aventura, drama, baseado em fatos, adaptado de livro, história

Classificação indicativa: 14+

Roteiro: Bernat Vilaplana, J. A. Bayona, Jaime Marques, Pablo Vierci

Produção: Belén Atienza, Lilia Scenna, Sandra Hermida, J. A. Bayona, Pablo Vierci

Direção: J. A. Bayona

Elenco: Agustin Pardella, Enzo Vogrincic, Matias Recalt, e outros…

Até a próxima! Bye.

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