[REFLEXÃO] Emagrecimento, saúde, padrões de beleza, aceitação

por Biia Rozante
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Quando li o livro Juntando os pedaços fui totalmente sugada pelo enredo justamente por me identificar com a protagonista, não em suas perdas, mas sim em sua aparência. Escrevi esse texto há muito tempo, mas o medo, ou melhor, o receio da “ignorância”, da falta de conhecimento, da maneira como as pessoas tendem a ser cruéis, acabei optando por não divulgar. Hoje por um acaso encontrei esse rascunho, mas desta vez a vontade não foi de calar e sim de compartilhar.


É engraçado como as pessoas tendem a associar o gordo com doença, até profissionais da saúde, quando vamos a uma consulta de rotina, ou por qualquer problema que surgiu a primeira coisa que falam é: Você já tentou emagrecer? Ai te pedem aquela bateria de exames e quando os resultados chegam e dá negativo para tudo nos encaram com a cara de taxo e fica nítido naquele momento que ele está com dificuldades de acreditar que você, mesmo GORDO é saudável. Ainda não satisfeito falam: Mas você tem que pensar na sua saúde, hoje você está bem, mas amanhã com certeza ficará doente – Diabetes, colesterol, pressão alta, até câncer é mais propício para quem é gordo -, você sabe disso não é?

Tenho vontade de gritar: NÃO, EU NÃO SEI NADA DISSO. Porque quem é gordo, tem a mesma chance de ficar doente de quem é magro. Doença não escolhe aparência, peso – ESTOU ME REFERINDO a quem é gordo e não Obeso, porque sim, a obesidade mórbida é uma doença e pode sim matar, assim como a magreza em excesso, a anorexia. Doenças de polos opostos, mas com o mesmo poder de destruição. Ser gordo não é sinônimo de doença, infelicidade, não significa que sou menos do que qualquer outra pessoa, não me deixa menos normal. Me sinto um lixo quando alguém me vem com esse papo ridículo, porque é tão difícil compreender como a mente das pessoas funciona, como podem ser tão pequenas, cruéis e vazias em suas convicções, como podem ridicularizar, julgar, apontar alguém por ser diferente?

Como se as pessoas a nossa volta não fossem suficiente para chacotear e complicar a vida, temos toda a pressão da mídia, os tais padrões de beleza que fazem questão de serem impossíveis, a modinha fitness. E é ai que as coisas complicam e quando você se dá conta, está numa dieta alucinante, está se matando na academia (Que por um acaso é um dos lugares mais preconceituosos do mundo, já que sempre que um gordo entra as pessoas nos encaram como se fossemos malucos, questionando o que o gordo está fazendo ali?), ou pior, está doente – depressão, fobia social, bulimia, anorexia -, não por que é fraca, mas sim porque está desesperado para ser aceito, se sentir bonita, dentro dos padrões, e sabe o que é mais triste, é que todos ficam falando do quanto você emagreceu, que agora sim está ficando bonita, que deve continuar firme, porque agora você está se tornando boa o bastante para pertencer, para ter o direito de ser feliz e viver.

Isso está errado. É preciso parar.

Seja livre, ame o seu corpo e não o do outro, se baste, se aceite. Acredite que você é merecedora, capaz de fazer o que desejar. A beleza está nas diferenças, naquilo que nos torna únicos e não em estereótipos.

SAÚDE em primeiro lugar sempre. E sim, podem se chocar, existe gordo saudável, com exames limpos e perfeitos. Assim como existe magros doentes, com as ditas doenças de gordos. E pode se chocar novamente, existe gordo que não é sedentário, que pratica esporte, que dança, que corre, que se ama, se respeita e se aceita, que não deseja ser magro.

Não estou fazendo apologia à gordura, não estou dizendo que ser gordo é certo ou errado, assim como ser magro é certo ou errado. Não estou generalizando. Estou apenas fazendo uma reflexão, tentando compreender porque ainda hoje sou obrigada a ter vergonha da minha aparência, precisando lidar com o preconceito, com a falta de respeito, de humanidade, com o desprezo de uma sociedade que em suma é tão cheia de diversidade, diferenças, raças, cores e tamanhos.

Sou gorda, sempre fui. Não tenho nenhuma lembrança da qual me recorde de ter sido magra. Minha genética é uma merda, o que me obriga a me policiar a cada respiração, porque até oxigênio me engorda. Mas sou e sempre fui SAUDÁVEL, meus exames estão em dia e graças a Deus ótimos. Na minha família, pelo menos com a qual eu convívio são todos magros, então imagina a pressão. Não é fácil gente. Eu não escolhi nascer assim, já enfrentei preconceito, já rompi barreiras, já me culpei e até hoje sofro, não consigo ser plenamente feliz.

E para aqueles que ficam falando: Então faça alguma coisa.

Minha resposta é simples: Estou fazendo. Estou deixando de te dar ouvidos, estou acreditando que sou capaz de ser feliz mesmo sendo gorda. Estou mudando meus hábitos alimentares, não porque isso é o que se deve fazer, porque alguém me mandou fazer, estou fazendo por MIM, única e exclusivamente para MIM. Não quero ser magérrima, não desejo atingir padrões tidos como perfeitos, quero apenas me sentir melhor comigo mesma. Mas se amanhã eu decidir que estou feliz sendo como sou, isso irá me bastar, porque o que realmente importa é a minha felicidade.

O mundo será um lugar muito melhor quando o SERfor maior que sua aparência, tamanho, cor, orientação sexual e religião. Quando as pessoas passarem a respeitar as diferenças e enxergar a beleza como algo único e particular, pois somos indivíduos e devemos ser tratados como tal.

O preconceito é sim, uma escolha. Não acha que está na hora de fazer a escolha certa?

Aproveitando a deixa, me deparei com um trailer que bateu fundo no meu coração – O MÍNIMO PARA VIVER (To the Bone) é uma produção Netflix que irá estrear em julho e por coincidência ou não, remete bem ao que falei aqui. Então já fica a dica…

Até a próxima! Bye.

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Cantinho da Caro 22 de junho de 2017 - 15:04

Arrasou!
Quem vê cara, não vê coração! Exatamente isso, não é porque é magro é saudável e vice e versa! Cada um sabe do seu íntimo! Todo mundo tem que ser o melhor que pode ser!
Amo você, independente de ser gorda, magra, branca ou preta! Te amo e ponto! Conta comigo sempre!

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Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 15:08

Oooiii amore. Aiiiiiiiiii obrigada. Exatamente isso, a beleza é tão superestimada, visto de maneira distorcida. Torço pela liberdade, para que todos possam ser feliz exatamente como são.
Beijoooooooooooooooooos

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Unknown 22 de junho de 2017 - 15:20

Uau! Fiquei emocionada. Estou numa briga constante com a balança, Me irrita muito essas pessoas sem noção que falam "Nossa vc estava magra engordou outra vez?" Gente eu tenho espelho em casa, minha saúde está Ok, vamos cada um cuidar da sua vida e ser feliz. Enfim, parabéns pelo texto.

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Paola Aleksandra 22 de junho de 2017 - 15:31

Ah, Bia. vem cá me dá um abraço ♥
Já li dois livros com esse tema – Garotas de Vidro e Juntando os Pedaços – e ambos me tocaram demais. De um lado, vemos a doença que corrói a alma e mata jovens que buscam um padrão de "perfeição" ridículo criado pela mídia – e o pior é que, do lado de fora, ninguém percebe a doença, todo mundo só vê uma menina magra.
Do outro lado tem uma jovem LINDA E CHEIA DE VIDA mas que é vista como doente, como alguém que precisa de tratamento, como alguém que "não é normal", como alguém obesa. E tudo isso só me faz pensar que PO*** é essa que estamos fazendo com nossos jovens. Cadê a aceitação, o amor, o respeito e o amor que vai além da aparência? Cadê essa vontade de lutar pelo diferente e erradicar, de uma vez por todas, esses ideais tolos que regem nossa sociedade? A beleza está em TUDO. Queria tanto que o mundo fosse capaz de ver isso. Que o mundo escolhesse, como você bem disse, ver isso.

Você foi muito corajosa em escrever esse texto. Amei. E espero que um dia consiga abandonar todas as inseguranças que traz em seu coração e, plenamente, viver em um mundo que reflita essa mulher linda e incrível que é (pode dentro E por fora).

Beijos

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Lili Aragão 22 de junho de 2017 - 15:38

Oi Bia, o texto se mostrou novamente pra você no momento em que te deu vontade de mostrá-lo no seu blog, de compartilhá-lo ou seja no momento certo 🙂 Achei ele bem inspirador e concordo com ele, você destacou vários pontos importantes e o principal deles é que seja lá o que você faça com seus hábitos e sua vida, vai ser feito por você e isso é o que vale, é o que é importante, devemos fazer o que queremos, quando queremos, pois não acho que sejamos felizes seguindo as regras dos outros. A felicidade é o que importa e eu espero e desejo isso pra você, felicidade <3

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Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 15:40

Aiiiiiiiiiii Pah, um abraço quentinho. Que lindooooo. Me emocionei aqui. é exatamente isso, vamos aceitar, incentivar, apoiar. Dar a nossos jovens uma nova perspectiva, visão de mundo, vamos mostrar a todos que a vida é muito mais que padrões. Que todos temos o direito de ser FELIZ e viver plenamente.
Obrigada pelas palavras de apoio, de carinho e pelo abraço.
Beijoooooooooooooooooos

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Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 15:42

Não é?
Denise fico possessa com isso. E quando falam assim: Minha amiga fez isso e emagreceu um monte, faz também. A pessoa nem sabe se você quer emagrecer, ela já supõe que você deve fazer.
Obrigada pelo carinho <3
Beijoooooooooooooos

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Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 15:44

Oooii Lili.
Exatamente. A felicidade e o se sentir bem é o mais importante.
Obrigada por compreender, pelas palavras de carinho.
Beijooooooooooos.

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Unknown 22 de junho de 2017 - 17:08

Meu amor! é difícil lidar uma sociedade medíocre né! que vê sabe olhar ao redor e não para dentro de si mesmo. que julga sem conhecer. que jamais pensou em compreender. EU TE AMO DO JEITINHO QUE VOCÊ É! E ME AMO TAMBÉM DO JEITO QUE SOU… gordinha, magrinha, alta, baixa, branco, negro… não importa! a alma é mais importante que tudo isso e eu amo você de corpo e alma meu amor! abaixo a ditadura da perfeição. ser perfeito não deve ter a minima graça….. TE AMO TE AMO TE AMO minha dinda preferida

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Biia Rozante | Atitude Literária 22 de junho de 2017 - 17:40

Aiii que surtei. Minha irmã de coração, minha amiga linda, segunda pele protetora. Aiiiiiiiiiii que saudade. Te amo do jeitinho que é, especial, linda, carinhosa. Saudade gigante <3

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Meu Vício em Livros 23 de junho de 2017 - 21:38

Este comentário foi removido pelo autor.

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Meu Vício em Livros 23 de junho de 2017 - 21:42

Amiga nem me fale em padrões, e quando é você mesma que se cobra como era o meu caso até pouco tempo? Nós as vezes somos nossos piores sabotadores.Por causa da depressão com a qual eu luto há anos eu engordei mais de 40 kilos e nunca consegui perder. Já sofri muito com isto, era linda de corpo e de repente não me reconhecia mais ao me olhar no espelho, fora os julgamentos e preconceitos que vc é vitima até da própria família. E quando vc é casada e o seu marido casou com vc quando vc era magra, como fica sua autoestima? E a vida sexual? E as pessoas que acham que vc tá grávida? ou acham que não é justificativa ter engordado tanto sendo que nunca engravidou? São tantas coisas que vc tem que mudar e aceitar pra enfim ser feliz, tantas pessoas que vc tem que se afastar para não ouvir comentários ridiculos e maldosos, não é fácil as vezes vc não querer sair de casa pq nenhuma roupa fica boa. Muitas vezes a gente se veste sem se olhar no espelho, espero que eu não seja a única. Fiz várias terapias e a mais eficaz foi a leitura, se tivesse me apegado nisto antes não teria sofrido tanto, nós aprendemos em cada uma delas e no dia a dia o que é realmente importante. É como vc disse, gordura não é sinal de doença e estou com a minha saúde de ferro aqui graças a Deus. Adorei o seu texto e a foto, não tem que ter medo não, se o coração mandou, poste, tem sempre alguém que vai se identificar. Bjs

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